sexta-feira, 30 de maio de 2014

Dia da Criança foi à sala de aula dos alunos do 7º Ano


Dia da Criança na Escola Cristina Torres

A Biblioteca Escolar comemorou o Dia da Criança, hoje, dia 30 de maio. Para além de uma exposição de literatura infantojuvenil patente no salão polivalente, foram criados marcadores de livros com lengalengas que foram oferecidos a alunos e professores. Em cada turma do 7º ano foi lida e projetada a história "Maruxa" de Eva Majuto e Mafalda Milhões. Uma mensagem esteve patente em toda a obra: a partilha de tarefas domésticas entre homem e mulher, além de justa é benéfica, dado que assim todos trabalham e descansam criando um ambiente mais feliz no lar.
 
Agradece-se a amabilidade das professores Ana Luísa Ferreira, Rosa Cação, Odília Pinto e Florbela Santos, que abriram a sua sala para a realização desta atividade.
 
Feliz Dia Mundial da Criança!

Vencedores do Concurso Literário Cristina Torres

Prémio Literário Cristina Torres
23ª edição


LISTA DOS  VENCEDORES COM IDENTIFICAÇÃO DOS CONCORRENTES

Escalão A – Texto Verbal e Texto Não Verbal

1º prémio: Mar (Maria Figueiredo Simões,  Jardim de Infância de Santana)
2º prémio: MF (Martim Ângelo Figueiredo, Jardim de Infância de Santana)
3º prémio: RP (Roberto Cabete Parreira, Jardim de Infância de Santana)

 

Escalão C – Prosa

1º prémio: Caçador de Sóis (Ana Gabriela Guedes, 8º C, Escola Cristina Torres)
2º prémio: Micaela Ribeiro (Fabiana Santos, 8º E, Escola Pintor Mário Augusto)
3º prémio: B4Con (João Daniel Gomes, 8º C, Escola Cristina Torres)

Escalão C – Poesia
1º prémio: Caçador de Sonhos (Ana Gabriela Guedes, 8º C, Escola Cristina Torres)

Escalão D – Prosa

1º prémio: Neiva (Edna Boliqueime, 10º E, Escola Cristina Torres)
2º prémio: Billie Joe Armstrong (Vladyslava Tolstolis, 8º A, Escola Cristina Torres)
3º prémio: Corujinha (Ana Carolina Pereira, 9º B, Escola Cristina Torres)

Escalão E – Prosa

1º prémio: Eterno Idealista (Diego Alves, 11º A, Escola Cristina Torres)

Menções honrosas
Escalão D – Poesia: Alberto Caniço (João Canoso, 8º E, Escola Pintor Mário Augusto)
Escalão D – Prosa: Branca de Neve (Ana Carolina Pereira, 9º B, Escola Cristina Torres)
Escalão E – Poesia: Íris Estrela (Ana Mélanie Oliveira, 12º E, Escola Cristina Torres)
Escalão E – Poesia: Helize Marilho (Ana Mélanie Oliveira, 12ºE, Escola Cristina Torres)
Escalão E – Poesia: Melzi Ridafer (Ana Mélanie Oliveira, 12º E, Escola Cristina Torres)


Trabalhos de Alunos - Prémio Literário Cristina Torres


Num dia de chuva


Caminhei debaixo do sol ardente 
em busca do amor,
foi tudo tão diferente,
não usei Prada nem Dior... 

Olhei para o mar,
mas foi em vão!
Eu queria o luar 
e tu a dar-me a mão.

A noite caiu de repente.
Quando olhei lá estavas tu,


de teu olhar eloquente


saído do velho baú...

Acordei, a chuva batia-me no rosto,
perdi-te na noite sem saber...
A chuva levou-te para o sol-posto 
eu nem queria crer... 

Que loucura
veio a chuva avassaladora,
perdi a compostura... 


esqueci o outrora.



Em dias chuvosos 
a tempestade vem,
lembro os teus abraços calorosos 
que só o sol tem... 

Num dia de chuva 
é difícil viver,
é como que ficar viúva
Ainda estou para perceber.

                 Ana Oliveira_Escalão E_Poesia




 Existem vários tipos de pessoas, pessoas ricas, em materiais, e arrogantes, pessoas ricas e simpáticas, pobres, em mentalidade e em materiais… e existe outro tipo, aquelas pessoas que não têm capacidade para poder ir a uma escola ou outro tipo de método de ensino, mas no entanto eu sei de alguém que não pôde estudar nem aprender durante muito tempo, mas mesmo assim conseguia alcançar os seus objetivos. Nasceu na época do fim do 25 de Abril, era muito corajosa e adorava ajudar, não só os que não tinham capacidades de se sustentar, mas também aqueles que precisavam de algo simples. Ela era uma espécie de supermulher, mas sem os superpoderes claro...
   Chamavam-lhe ‘’Flor’’, mas sinceramente não sei o seu verdadeiro nome mas deve ter algo a ver com uma planta…
   Ela nasceu em casa, pois a sua mãe vivia no campo e era difícil de ter acesso a uma ambulância ou um médico para a ajudar.Flor, foi a sexta filha da família, além da sexta foi também uma das que alcançou mais objetivos.
Um ano depois de ela nascer, teve mais um irmão. Nessa altura, decidiram mudar de casa, optaram por vender a casa do campo a uma família da cidade, eles costumavam conversar, e ambas as famílias estavam de acordo que na cidade tudo era mais barulhento e movimentado, mas a família da flor tinha uma opinião diferente, que na cidade podiam viver com melhores condições e conseguir começar uma vida nova. Para conseguirem sustentar aquela grande família, que em 1982, a data em que se mudaram, já era constituída por dez irmãos, um pai e uma mãe.
Já na cidade os pais trataram de a matricular para uma nova escola. Mesmo estando na cidade vivia numa das partes mais escondidas  e afastadas da parte central da cidade, Flor dizia que todo o caminho até à escola parecia um caminho de ''cabras''. No primeiro dia de aulas foi sozinha para a escola, e a pé, o caminho até lá durava mais de 25 minutos... 10 minutos depois de Flor sair de casa começou a chover, ela não se importava muito, pois quando chegava a escola, toda molhada, davam-lhe roupas novas e ela podia leva-las para casa e usufruir delas.
Flor adorava chuva, era a maior admiração dela a seguir aos animais que ela guardava na quinta, antes de se mudar.
Um dia Flor chegou a casa e deparou-se com um novo objeto na mesa da sala.Era um rádio, ela não fazia ideia de para que é que aquilo servia, saiu da sala e foi perguntar à sua mãe:
- Mãe, que coisa é aquela em cima da mesa?- perguntou Flor com os ombros encolhidos.
-Chama-se rádio...-respondeu a mãe num tom de brincadeira.
-Rádio? E serve para quê?!
-Vamos para a sala, chama os teus irmãos e já vais descobrir.
-Mas...mãe eu queria tanto ir brincar lá pra fora...
-Está a chover filha, para isso é que eu trouxe o rádio.
A Flor foi chamar todos os seus irmãos para irem ver o que fazia aquele objeto ''estranho'' e ''desconhecido''. Chegaram à sala e a mãe deles pôs o rádio a trabalhar, começou a dar uma música que eles nunca tinham ouvido... aliás era provavelmente a primeira música que eles estavam a ouvir. Flor começou a perguntar de onde vinha o som, ela pensava que o som vinha de uma orquestra de dentro da parede. Flor não parecia gostar muito daquela ''coisa''.
Saiu pela porta das traseiras em pezinhos de lã, para que ninguém a ouvisse...
...Como é óbvio, foi brincar para a chuva...em primeiro lugar pegou num saco de plástico para guardar a água da chuva (ela não tinha baldes em casa...), depois esperou debaixo do parapeito da grande porta que dava do jardim para a casa, para que começasse a chover muito. Quando a chuva começou a engrossar, a Flor saiu debaixo do parapeito e estendeu os braços com os saco aberto. Passados alguns minutos já tinha o saco a transbordar. A chuva era cada vez mais forte, mesmo com o saco já cheio Flor continuava ali às voltas, como se fosse muito divertido apanhar uma constipação. Começaram a cair ''pedras de gelo'', ela tinha apenas 11 anos e nunca tinha visto aquelas pedras, Flor pensou que era um fenómeno inédito, e que ela era a primeira pessoa que via aquilo, porque era a primeira vez que ela via ''aquilo''. Ela despejou logo a água fora do saco e começou a enche-lo de granizo para poder ir mostrar aos pais e aos seus irmãos.
Foi a correr rapidamente para casa, para mostrar aquilo a toda a sua família.
-Mãe! Mãe! Vem ver o que eu encontrei!-gritava Flor mesmo antes de ter chegado a casa .
-Vês mãe...?!
-O quê água num saco?!-Perguntou a sua mãe com um ar de furiosa.
-Não...Hum...?!Mãe, ainda à 10 minutos atrás, esta água era sólida, branca e fria!
...Depois de uma longa conversa com a sua mãe, Flor ficou de castigo por ter ido para a rua, quando a sua mãe lhe tinha pedido para não o fazer. Além de uma constipação, Flor ficou de castigo durante 1 semana, e encheu o chão de água, para o seu bem passou a saber que aquelas pedras não passavam de água congelada.
Já era quase Natal...ela queria fazer algo de bom naquele Natal, algo que lhe desse prazer. Tinha ouvido naquela ''coisa'', chamada rádio, que no dia de Natal ia estar um tempo chuvoso e com vento forte, ela achava que já chegava de tristeza. Toda a gente se entristecia com aquele tempo triste e cinzento, mesmo sendo natal. Flor era provavelmente a única pessoa que gostava de chuva e se divertia com ''ela''.
Flor ouviu uma conversa entre sua mãe e sua irmã mais velha, tinham falado sobre os mortos que tinham ocorrido desde o início daquele frio Inverno, e suas previsões, a maior parte eram sem abrigos.
Então, ela contou à sua mãe o que tinha ouvido da conversa, contou-lhe a sua opinião em relação ao ajudar os sem abrigo. A sua mãe concordou e adorou a sua ideia. A ideia que Flor teve foi pedir ajuda a todos as empresas de ajuda aos carenciados, e ,sobretudo pedir ajuda a toda a sua família, vizinhos...Flor queria fazer daquele Natal o renascer de um novo homem (em geral) ,um homem que gostasse de ajudar, não ligar só aos materiais...ela queria fazer daquele mundo um mundo melhor, sem pessoas diferentes.
Para começar a sua tarefa distribuiu tarefas por toda a sua família, ela e a sua irmã mais velha foram pedir autorização para ''pôr o plano em prática'', a sua mãe e o seu pai foram pedir ajuda a todas as empresas, e o resto dos irmãos foram distribuir panfletos por todas as ruas da cidade.
Ainda antes do dia de natal, já tudo estava pronto, os sem-abrigo estavam a receber uma casa temporária e uma oferta de emprego para  que pudessem fazer as suas vidas sem interrupções, e não pedir mais dinheiro a ninguém. É óbvio que ainda haviam aqueles carenciados que pareciam não querer aceitar, e como o bom provérbio diz: ''não se deve dar o peixe, deve-se ensinar a pescar''.
Tudo parecia estar a correr bem, Flor era popular e bem vista em toda a cidade, tal como toda a sua família... até que um dia sua mãe teve um ''AVC'', não foi nada de mais, mas o pior foi a partir dali, sua mãe começou a ''perder um bocado de si'' de dia para dia.
No dia de natal toda a sua família estava sentada à mesa, a sua mãe tratou de cortar o peru. Depois a mãe de Flor foi sentar-se no banco da casa de banho...foi quando caiu do banco...Alguns minutos depois Flor apercebeu-se disso e pediu para chamar a ambulância. No hospital os médicos deram a boa notícia de que a mãe estava a recuperar. Mas não era bem assim, em casa o pai deles tratou de dar a notícia de que a mãe tinha morrido... todos desataram a chorar...exceto Flor. Flor não chorou porque ela sentiu que sua mãe não tinha morrido, tinha acabado de nascer. Flor tinha uma teoria, que quando os filhos já não precisam dos pais, os pais partem...para um lugar melhor.
Flor sentiu que o que ela fez antes do dia de Natal tinha sido um sinal de como ela já não era uma criança, a sua mãe não partiu, agora a sua mãe podia vê-la sempre, e saber de tudo o que ela fazia. Sua mãe partiu, o que não fez daquele dia o dia cinzento de Flor, transformou aquele dia chuvoso e cinzento de Natal num lindo e perfeito dia de Sol.


                                   João Gomes_Escalão C_Prosa




Chuva e Lágrimas


            Esta semana tem sido uma loucura! Desde que recebi a notícia de que os últimos elementos da minha família tinham morrido, não tenho conseguido pregar olho ou comer alguma coisa decente. Mais tarde ou mais cedo, isso iria acontecer de qualquer forma. Os meus tios sempre cuidaram bem de mim desde que os meus pais morreram num trágico acidente rodoviário, mas a sua saúde há muito que andava abalada. Mas acontecer agora era completamente imprevisto.
Quanto aos meus pais, não sei o que pensar, até porque, com seis anos de idade, não nos apercebemos da gravidade da situação e apenas queremos um sítio seguro para estar a brincar sossegados. Não lembro de nada realmente.
            Agora sinto aquilo que não sentira nessa altura. O tio Ben e a tia Mary sempre olharam por mim como fariam pela filha que eles nunca tiveram e, até entrar para a Universidade em Denver, sempre fui muito chegada a eles. Mesmo depois de conquistar o meu espaço e ir viver para um pequeno apartamento junto ao centro da cidade, ia sempre visitá-los quando, por um milagre qualquer, conseguia um furo na minha agenda. Nos últimos dois anos, só tinha estado com eles uma vez, no dia de Ação de Graças do ano passado. A trabalhar na redação do “The Denver Post”, mal encontro tempo para mim mesma. Vivo num frenesim para conseguir manter-me na indústria do jornalismo.
            Neste momento não sei como ainda consigo conduzir até à pequena casa no meio dos montes que existem nas proximidades de Denver. A viagem não é muito longa, mas, com esta chuva e a falta de descanso, posso muito bem despistar-me com o carro num piscar de olhos. Lembro que foi justamente o cansaço que levou ao acidente daqueles que me colocaram no mundo e que nunca cheguei a conhecer realmente. Sei como eram apenas porque a tia Mary gostava muito da sua irmã e ainda guardava algumas fotografias da minha mãe. Mãe… palavra estranha para chamar a um fantasma que vive na minha mente e apenas nela.
            Encosto o carro junto a um café de beira de estrada para tomar um café ou algo para me recompor. Com a semana que me deram na redação, sou capaz de ter tempo para organizar todas as coisas que deixaram pra mim, reorganizar as minhas ideias e seguir em frente. Os meus tios não iriam querer que eu me fosse abaixo com esta situação, mas que tirasse algum tempo pra mim e que voltasse com toda a força. Mas será que eu serei capaz?
            Peço um café duplo ao empregado de balcão e alguma coisa rápida para comer. Na televisão, anunciam muita chuva para esta noite. Não posso perder muito tempo ou então terei de dormir no meio das memórias que ainda tenho dos meus tios e isso é a última coisa que eu quero fazer. Pelo menos, enquanto não estiver completamente confiante em mim mesma. Iria ceder sob uma situação dessas.
            Corro até ao carro sob uma chuva fina e prossigo até à pequena casa. Ao chegar, vejo que nada mudou desde a última vez que estive aqui: os mesmos cortinados vermelhos com renda permanecem à espreita através das janelas da sala e o poço junto da pequena horta continua na mesma, uma construção por acabar, o estado que apresenta desde o ano em que o tio deixou de poder fazer grandes esforços. Sem filhos, primos, sobrinhos, irmãos ou qualquer outro tipo de parentes, nenhum de nós os três levou a cabo a difícil tarefa de fazer um bem merecida reforma àquele lugar, por falta de tempo ou de condições de saúde.
            Pisar novamente o alpendre torna-se mais difícil do que eu pensava. Mesmo com uma chuva um pouco mais forte do que a que caía quando abandonei o pequeno café, não consigo dar o primeiro passo durante largos minutos. Quando finalmente o faço, a sensação é quase eletrizante e surreal. Entrar na mesma casa onde cresci e fui feliz, sabendo que os braços carinhosos e acolhedores da tia Mary não vão estar estendidos à minha espera, evoca novamente as lágrimas que têm acompanhado as minhas noites em claro.
            Abro a porta e aquele cheiro tão familiar da minha infância que me invade torna inevitável a chuva de lágrimas que é acompanhada pela sinfonia de milhões de gotas que caem do céu. Fecho a porta e vou até à sala e, em vez de ser forte como pretendia e como prometi a mim mesma ser quando este momento chegasse, a única coisa que faço é deixar o meu casaco molhado pelo chão e aconchegar-me numa manta que estava perfeitamente dobrada por aquelas mãos habilidosas que eu tão bem conhecia.
Ali fiquei por horas. Entre sonhos sobressaltados passei o resto daquela tarde, aninhada num dos sofás da sala.
            Quando finalmente consigo libertar-me daquele estado de letargia, já são quase oito horas da noite e, com a escuridão e o meu estado emocional, nunca iria ser possível voltar para casa sem perigo. Poderia até matar alguém pelo caminho. Não. Não gosto da ideia, mas tenho de ficar durante a noite.
            Vou até à entrada e encontro uma lanterna sem pilhas. Que bom! Sem eletricidade e uma lanterna sem pilhas não consigo ver mais do que dois metros à minha frente. Com cuidado vou até ao andar de cima à procura de pilhas na sala de costura. Encontro algumas numa gaveta e consigo ligar a lanterna. A luz não é muito forte, mas é o suficiente para que eu consiga organizar algumas coisas ao longo da noite, pois não planeio conseguir dormir esta noite.
            Saio da sala de costura e vou até ao antigo escritório do tio Ben ver se consigo impor alguma ordem àquele mundo de papéis e documentos que ele guardava ali. Ainda consigo lembrar a forma hilariante como o tio costumava dizer que, aos olhos dos outros, podia parecer que aquele escritório estava num caos, mas que ele sabia muito bem onde se encontrava cada coisa. Agora estava tudo coberto por uma fina camada de pó e envolto em memórias felizes e extremamente dolorosas. Não vou sair a correr daqui apesar de toda a dor que possa estar a sentir agora. Tenho de ser forte! Começo a tentar compreender se havia algum tipo de padrão na forma como ele juntava as suas coisas, mas parece que tudo está aleatoriamente agrupado e desisto ao fim de algum tempo.
            Como é que vou conseguir “livrar-me” de tudo o que está nesta casa quando tudo evoca aquilo que eu não quero esquecer e que tem mantido um turbilhão de emoções e ansiedade às voltas dentro de mim? Não consigo levar tudo para o minúsculo apartamento onde vivo e deixar tudo como está fechado nesta casa também não é uma alternativa, pois ela estará abandonada enquanto eu estiver em Denver e as probabilidades de ser vandalizada não são assim tão baixas se estiver desabitada. Pensarei em alguma coisa noutra altura.
            Decido abandonar o escritório e ver se ficou algum enlatado na cozinha mas, antes de sair do meio daquela confusão de papéis, reparo num brilho metálico ao lado de um dos grandes quadros que o tio mantinha ali. Direciono o feixe de luz para o brilho que tinha avistado e descubro que é uma chave que nunca antes tinha visto ali. Estava delicadamente posicionada num gancho. Talvez seja a chave de uma daquelas gavetas misteriosas que o tio mantinha meticulosamente trancadas desde que eu consigo lembrar-me. Agarro a chave e, por força da curiosidade que eu sempre tive, vou até ao móvel no fundo do escritório e tento abrir cada uma das gavetas até ter sucesso. Quando uma delas finalmente se abre, a única coisa que encontro são algumas resmas de papel branco e uma pequena caixa que continha uma nova chave e um pequeno mapa de toda a propriedade que lhes pertencia.
            Arranjo algum espaço em cima da secretária e abro o mapa. Nunca pensei que eles possuíssem uma área tão grande à volta daquela pequena casa. Analiso aos poucos os pequenos detalhes que o mapa fornecia e descubro que existe um pequeno lago e um bosque não muito longe dali e que faz parte da propriedade. O mais estranho era que eu nunca tinha ficado a saber da sua existência e que parecia existir um pequeno abrigo junto a esse lago. Porque é que eles nunca falaram da sua existência? Tantas foram as tardes de verão em que eu teria adorado ir brincar para um lago ou andar com a tia Mary por um bosque. O que será que os levou a ocultar-me esse pequeno paraíso mesmo junto à casa? Terá sido por isso que nunca pude ir mais longe do que o fim do nosso pequeno pomar? Aquilo era demasiado estranho para ser verdade. Por certo eles teriam as suas razões.
            Vou até à cozinha no andar de baixo e, enquanto saboreava as últimas latas de salsichas e milho que consegui encontrar, analiso com algum cuidado aquele estranho mapa. Uma coisa é evidente: pelas dobras e marcas que o mapa tem, este foi utilizado várias vezes.
Depois de comer, vou até à entrada com algum cuidado e procuro por um dos impermeáveis da tia Mary e um par de botas. Coloco as botas e o impermeável e encontro uma lanterna mais potente a um canto da sala junto do cesto da lenha. Todas as dúvidas levantadas por aquele mapa afastaram a dor que tinha estado a moer-me durante os últimos dias. Uma chama tinha incendiado os meus instintos jornalísticos e não custava tanto estar ali.
Ainda chovia com alguma força quando abri a porta, mas a lanterna que tinha encontrado proporcionava visibilidade suficiente para conseguir distinguir o caminho que o mapa indicava. Segui por dentro do pomar e, depois de chegar ao seu fim, fui sempre a direito pela colina abaixo. Ao olhar para o chão, notava-se que estava no caminho certo, pois havia marcas na direção em que eu seguia, quase como se alguém tivesse passado por ali milhares de vezes e tivesse deixado vestígios do mesmo caminho que fez. Terão sido os meus tios?
As dúvidas enchiam a minha mente e, sem dar por isso, consegui chegar ao que parecia ser o bosque que estava representado no mapa. Volto a olhar para o meu guia, agora todo molhado, e concluo que o lago e o tal abrigo ficam a pouco mais do que cinco minutos de caminhada se seguir a orla da vegetação. Quando avisto o lago, a chuva decide dar algum descanso e para por algum tempo. Aproveito para recuperar a respiração e tentar perceber porque é que nunca pude vir até aqui quando parece ser um lugar tranquilo. Avisto também o pequeno abrigo presente no mapa e decido ir até lá inspecioná-lo.
Ao aproximar-me dele, verifico que a porta está trancada e que todas as janelas estão bloqueadas por dentro com algumas tábuas. Não existe nada à volta senão o lago e aquele pequeno abrigo. Sento-me junto à porta e começo a pensar que talvez sejam apenas invenções, mero produto da minha imaginação que tenta desesperadamente ocupar-se com outras coisas que não a perda dos meus tios. Mas isso não explicava porque é que eu nunca soube daquele lugar ou porque é que o tio Ben guardava aquele mapa com tanto cuidado junto daquela chave. A chave!
Levanto-me rapidamente e tiro a chave de um dos bolsos das calças e tento usá-la para abrir a porta. A tentativa dá resultado, mas preciso fazer alguma força para conseguir empurrar a porta. Parece que o pequeno abrigo não vê a luz do dia há algum tempo e o ar parece pesado devido a isso. Tento perceber o que tem sido guardado aqui dentro durante tanto tempo. Ilumino as coisas mais próximas e percebo que são papéis e alguns dossiês. Numa das paredes reparo que existe um grande placar coberto com artigos de jornal e outros documentos. Aproximo-me para poder ver melhor e… Não pode ser verdade! Porque é que fotos minhas de quando era pequena estão estampadas nos recortes?
Pouso a lanterna numa posição que permita que eu tenha uma boa visibilidade e começo a analisar as manchetes: “Casal Harlington é tragicamente assassinado e deixam uma filha!”; “Casal brutalmente assassinado!” O que significa tudo isto? Porque é que usaram a minha imagem? Casal Harlington? Brutalmente assassinados? O que fazem todas estas coisas aqui?
Tudo isto é demasiado para mim! Primeiro, a morte dos meus tios e, agora, um pequeno abrigo repleto de jornais britânicos que afirmam coisas que eu não compreendo! Deve haver mais indícios ou pelo menos informações que expliquem tudo entre os papéis que estão aqui. Começo a procurar alguma coisa que diga que isto tudo não passa de um engano.
Entre papéis de jornais e documentos encontro algo que talvez esclareça alguma coisa. Começo a ler algumas páginas do que parece ser troca de correspondência entre o tio Ben e alguém com uma caligrafia que não reconheço: “Espero que esteja a correr bem. As autoridades ainda não conseguiram nenhuma informação sobre o vosso paradeiro. Acho que vocês conseguiram finalmente o que queriam: a vossa miúda de volta.” Releio, intrigada: “a vossa miúda de volta”?
O desespero acaba de tomar conta de mim. Deixo as cartas caírem e expludo num mar de lágrimas. Mesmo que estivesse alguém por perto nunca ouviria os meus gritos de aflição devido à chuva que voltou com toda a força. Nada disto faz sentido. Não pode ter acontecido tal coisa. Ou será que aconteceu?
 Tento reunir as pontas soltas aos poucos, procuro analisar as notícias e algumas cartas que consegui reunir. Entre soluços e pausas que fui obrigada a fazer para superar as verdades mais cruéis, acabei por descobrir que afinal não eram os meus tios. Tudo o que vivi até hoje não passou de uma falsidade? Uma história inventada?
Vivi uma vida forjada e mantida em segredo no interior dos Estados Unidos aos cuidados de um casal que após assassinarem brutalmente os meu verdadeiros pais levaram-me para longe. Volto a debruçar-me sobre as cartas com a caligrafia que eu não reconhecera antes e aos poucos descubro que aqueles que se diziam meus tios me tinham adotado quando ainda era um bebé mas, passado pouco tempo, perderam a guarda para os meus pais biológicos que quiseram voltar atrás com a adoção. Pelos vistos, os meus pais conseguiram ganhar a causa e surgiu uma disputa entre os dois casais. E agora aqui estou eu: desolada e confusa com tudo isto!  
Como foram capazes de fazer-me isto? Como foram capazes de arrancar-me dos braços dos meus verdadeiros pais por mero egoísmo de forma tão brutal? Por maior que fossem as suas razões, nada justifica a morte de um casal. Nada justifica uma vida inteira de mentiras!
A dor passou a revolta e agora sinto-me vazia, quase como se me tivessem tirado tudo aquilo que eu alguma vez amei e que eu nem tivesse lutado contra isso. Vivi todo este tempo sem conhecer os monstros que viviam debaixo do mesmo teto que eu, mas pelo menos descobri a verdade e sinto que agora sou capaz de enterrar todas as memórias e seguir em frente de uma vez por todas.
Fecho o pequeno abrigo e dentro de pouco tempo volto com uma garrafa de combustível e um isqueiro. Rego todas as provas daquele episódio macabro da minha infância e deixo as chamas consumirem o abrigo.
A chuva cai sobre mim e lava as minhas lágrimas. Não interessa quem eles foram ou se eu os amei. A pouco e pouco as lembranças deixam-me com as últimas lágrimas que estou disposta a chorar por eles. Encerro de uma vez por todas este capítulo da minha vida!
 
Diego Alves_Escalão E_Prosa



Dia de Chuva

Olá. O meu nome é Iara. Hoje vou-vos contar uma história. A minha história.
Esta é uma história dedicada a todos aqueles que pensam que um dia de chuva é apenas aquele dia em que ficamos deitados no sofá a ver televisão enrolados numa manta enquanto somos embalados pelo barulho constante da chuva lá fora.
A certa altura da minha vida, dei-me conta de que um dia de chuva pode ser bem mais do que isso. Vou então contar-vos a ‘’fase chuvosa’’ que passei quando eu e os meus pais tivemos de ir viver para a Dinamarca devido a problemas financeiros.
Tínhamos acabado de chegar, desde que o avião aterrara ainda não tinha parado de chover. Para mim, habituada desde sempre a ver um sol radioso no início de setembro isto era absolutamente horrível!
Chegámos àquela que seria a nossa casa daí em diante, era uma casa acolhedora, nem muito grande, nem muito pequena, com um pequeno jardim à frente. Os meus pais indicaram o meu quarto e deixaram-me sozinha para arrumar as minhas coisas. O quarto já se encontrava mobilado e decorado em tons azuis (a minha cor favorita). Tinha uma cama de casal encostada à janela que dava para um parque muito bonito do outro lado da rua. Ao lado da cama estava uma mesinha de cabeceira na qual estava pousado um candeeiro. No fundo do quarto havia uma secretária enorme e na parede ao lado da porta estava um roupeiro branco também bastante grande com um espelho no lugar das portas. Para meu delírio, no meio do quarto estava uma cadeira de baloiço que deslizava para um lado e para o outro do quarto. Tenho de confessar que adorei o meu quarto.
Pousei as malas sem me preocupar em arrumar as coisas, puxei a cadeira para perto da janela e sentei-me lá a olhar para a chuva que caía interruptamente. Comecei a pensar em tudo aquilo que deixara em Portugal, os amigos, a família, a escola, a dança, toda uma vida que tinha construído ficara agora para trás.
Perguntei-me o que estariam a fazer todos aqueles que deixei em Portugal. Entre o meu grupo de amigos tínhamos uma tradição: no último dia de férias de verão juntávamo-nos para passar o dia na praia. Conversávamos, ríamos, fazíamos palhaçadas…. Enfim… Éramos tudo aquilo que eu não era naquele momento: felizes.
Quando dei por mim tinha lágrimas a escorrer-me pela cara em sintonia com a chuva… Enquanto aqueles de quem eu mais gostava tinham passado o dia juntos a divertir-se, eu tinha passado o meu último dia de férias numa horrível viagem para um país desconhecido onde não conhecia ninguém e onde para qualquer lado que olhasse só via chuva, nevoeiro e um céu cinzento que parecia estar prestes a cair-me em cima.
Ia começar as aulas no dia seguinte, sem tempo para me ambientar ou para conhecer alguém. Tinha passado o verão a ter aulas intensivas de dinamarquês e já entendia bastantes coisas apesar de continuar a engasgar-me sempre que me pediam para falar. Ia por isso começar um ano atrás numa turma normal, sem ninguém que não falasse aquela língua que eu tinha começado a odiar.
Quando dei por mim tinha os meus pais a abanar-me para ir para a escola, tinha adormecido na cadeira sem me dar conta disso. Olhei-me ao espelho e estava horrível. Tomei um banho rápido, peguei na primeira roupa que me apareceu na mala e enfiei os livros que os meus pais tinham encomendado pela internet na mochila.
Mal dei conta do tempo a passar e quando me apercebi estava na escola. O dia foi muito longo e quando cheguei a casa deitei-me na cama e desatei a chorar novamente. Nesse dia eu tinha sido a estranha, ninguém tinha tentado falar comigo e os poucos que o tentaram fazer afastavam- -se pouco depois aos risinhos por eu não conseguir falar como deve ser.
Chorei como nunca tinha chorado, chorei por saudades, por frustração, por raiva dos meus pais por nos termos mudado e ainda mais raiva de Portugal por nos ter obrigado a isso, chorei por medo, por insegurança… Chorei por todos os motivos e mais alguns.
Quando acabei de chorar dei-me conta de que apesar de não ter caído uma pinga de água, aquele tinha sido um dia de chuva. Na minha cabeça desenrolava-se uma tempestade tremenda, interrompida ocasionalmente pelo trovejar dos meus soluços. Esse foi o primeiro dos muitos dias chuvosos que se seguiriam.
E quando me deitei nessa noite apercebi-me que não é preciso cair água do céu para ser um dia de chuva. Basta nós sentirmo-nos no meio de uma horrível tempestade, basta sentirmos que não há nada à nossa volta senão nuvens carregadas de chuva que nos sufocam e nos impedem de viver a vida como deve ser.
Basta sentirmos que estamos num Dia de Chuva.
 
Ana Gabriela Guedes_Escalão C_Prosa



 
Dia de Chuva

Num dia de chuva decidi relembrar
As memórias antigas,
E a pessoa que eu era
Antes de tudo começar a mudar

A chuva cai lá fora
E eu sozinha aqui estou
A vida continua a girar à minha volta
E eu sem saber para onde vou.

Do outro lado da janela
A chuva continua a cair,
Ouço crianças a chapinhar nas poças
E eu, sem conseguir sorrir.

Tudo cai á minha volta,
Tudo deixa de ter sentido,
De repente tudo fica cinzento
E eu apenas não consigo…


Não consigo mais sorrir,
Não consigo mais falar
A única coisa que eu consigo fazer
É chorar.

Chorar em silêncio,
Na escuridão
Ou à luz das estrelas,
Apenas na minha solidão.

As lágrimas escorrem pela minha face
Incontroláveis assim como a chuva
A chuva que não quer saber,
Que não para
A chuva interrupta,
Indiferente ao meu sofrer.

Vertidas em gotas salgadas
Estão as memórias dos tempos de outrora
Memórias que não quero lembrar,
Mas que também não consigo esquecer
Memórias dos tempos de felicidade 
E da pessoa que deixei de ser.

Ana Gabriela Guedes_Escalão C_Poesia


 
Num dia de chuva…

Há milhares de anos atrás, rodeadas por íngremes montanhas e ódio, viviam duas tribos lideradas por um homem negro como o carvão e por um homem branco como a neve, terríveis inimigos!
Viviam demasiado perto uns dos outros e talvez fosse esse o motivo para tantos problemas, ou talvez, a verdadeira razão fosse a teimosia, a incapacidade de raciocinar e a ganância que os cegou e que os transformou em duas miseráveis criaturas sedentas de guerra e de poder.
E eram estes infelizes seres que guiavam o seu povo para a desgraça, ensinando crianças a odiar inocentes, ensinando jovens a insultar os seus iguais, ensinando adultos a fabricar armas e a incendiar os campos e os corações dos seus vizinhos e ensinando os mais velhos a amaldiçoar o próximo e as futuras gerações que cultivarão as terras e darão de beber ao gado quando estes idosos embarcarem no sono profundo e eterno.
Era impossível haver paz entre eles.
Havia guerras por tudo e por nada!
Haveria guerra se as colheitas fossem más, haveria guerra se chovesse muito, haveria guerra se estivesse muito calor, haveria guerra se estivesse muito calor, haveria guerra se estivesse muito frio, haveria guerra se algum objeto fosse partido e haveria guerra se a mulher de um dos líderes partisse uma unha!
E o povo não se cansava de tantas guerras?
A verdade é que eles só conheciam esta vida e sabiam que se desobedecessem a alguma ordem eram severamente castigados.
A terra ensopada de sangue e de lágrimas das mulheres que perdiam os seus filhos marcavam o fim de uma guerra.
A mortandade governava esta terra.
E assim viviam estas pessoas. Rodeadas por íngremes montanhas e ódio onde a felicidade, e alegria e a paz nunca chegaram e onde as guerras, a miséria e a desgraça perdurarão para sempre.
E talvez assim acontecesse se a Mãe Natureza não interviesse.
Esta, furiosa, resolveu castigar os dois líderes enviando-os para o Vale Sem Fim, enquanto estes dormia confortavelmente nas suas camas.
Aí aprenderiam a viver juntos e sem guerras, depois voltariam para as tribos, onde espalhariam a alegria e a paz.
Se tal não acontecesse, as suas almas seriam condenadas a vaguear pelo Vale, com fome e sem poderem comer, com sede e sem poderem beber, cansados sem poderem descansar…
A cada um deles foi dado um objeto.
Ao homem negro como o carvão foi dada uma corda e ao homem branco como a neve foi dada uma pequena pedra preta aguçada.
Acordaram. E talvez preferissem não o ter feito.
À sua volta avistaram uma densa floresta. E como era escura! Terrivelmente assustadora!
Depois de admirarem a “magnífica” paisagem aperceberam-se que estavam com fome, muita fome, demasiada fome, algo que nunca tinha acontecido antes.
E nesse mesmo instante os seus olhares cruzaram-se…
Nem a fome nem a guerra os deteve. Guerra. Lutaram, partiram ossos, arrancaram cabelos… uma decisão muito inteligente, deveras.
Estavam tão concentrados na luta que não se aperceberam que estavam a ser rodeados por duas terríveis feras.
Só se aperceberam disso quando lhes chegou aos ouvidos o roncar de um estômago que não pertencia nem ao homem branco nem ao homem negro. 
Assustados, levantaram-se e correram em direção à floresta sombria, mas por diferentes caminhos.
Estranhamente, as feras não os perseguiram.
Apesar de terem seguido diferentes caminhos, ambos deixaram os seus valiosos e únicos pertences naquela clareira.
Voltar para trás? Não, nunca. Mas em nada como irão sobreviver?
Foi então que os dois homens decidiram: comer e depois pensar.
Mas comer o quê? Após algumas horas de cautela e de olhos bem abertos, conseguiram encontrar umas raízes comestíveis.
 Azedas mas suculentas, sabiam a mel. Quando se está com fome até a mais dura côdea de pão satisfaz o apetite.
De barrigas meio cheias meio vazias, engendraram um plano.
O homem branco como a neve decidiu cobrir-se com lama, pois assim seria mais difícil captarem o seu cheiro.
O homem negro como o carvão cobriu-se com as poucas folhas que encontrara, pois assim seria mais difícil conseguirem vê-lo.
E assim avançavam pela noite dentro para a “boca do diabo”. 
As feras dormiam. Feias criaturas. Fedorentas. Extremamente desagradáveis.
Nesse instante, os dois homens avistaram-se. Pensando que a sua chave para a sobrevivência poderia ser roubada foram a correr ao encontro dos seus tão desejados e únicos bens. Atitude muito correta sem dúvida.
E é claro que a feras acordaram mesmo antes de eles terem percorrido meio caminho para a salvação.
Estavam muito perto de o conseguir, por isso em vez de irem a correr em direção à floresta, foram a correr em direção aos objetos. Como peixes a nadar em direção às redes.
 Mesmo quando estavam quase a conseguir, foram arremessados pelo ar.
As feras espetavam as garras na pele deles.
Banhado em sangue o homem branco como a neve conseguiu soltar-se dando dois valentes murros à fera que o prendia, deixando-a desnorteada.
Aproveitando este milagroso momento, levantou-se e correu em direção ao seu objeto.
O seu rival ainda se encontrava em dificuldades.
Pegou na pequena pedra preta aguçada e na corda. Mas, por razões desconhecidas, atirou a corda para junto do homem negro como o carvão e sem demoras correu para a floresta e só parou quando se certificou que nada o perseguia.
- Porque o fiz? Ajudar o meu rival? Porque é que eu não fiquei com a corda? E onde estará ele agora? Ou está morto ou está a rir-se da minha estupidez. - murmurava  por entre dentes o homem branco como a neve.
Algumas horas depois decidiu voltar à clareira.
Ninguém lá estava, nem fera, nem homem, nem corda.
- Talvez tenha sobrevivido. – disse o homem branco num tom de voz quase inaudível.
Este pensamento causava-lhe algum conforto, bem lá no fundo.
O que ele não sabia é que o homem negro não se estava a rir, mas pelo contrário, foi aquele ato que o salvou, que permitiu sufocar a fera e sair daquela maldita clareira.
O seu companheiro merecia um favor.
Ambos cansados resolveram fechar os olhos. Tinha passado um grande dia.
Acordaram. Estavam perplexos. Do dia para a noite a floresta sombria transformou-se numa zona de grande altitude com enormes montanhas. Que estranho Vale!
Estava frio. O vento soprava com muita força. À sua volta, um grande manto branco cobria as montanhas.
Ambos seguiam diferentes caminhos.
Caminharam muito. Estavam cansados e famintos. Desta vez as raízes não lhes salvariam a vida dado que não havia nenhumas.
Precisavam de um sítio para se abrigarem pois estava a aproximar-se uma grande tempestade.
O homem branco depois de muito procurar encontrou uma gruta onde se abrigou.
O homem negro não teve a mesma sorte, mas, como apesar de tudo era um homem inteligente, decidiu procurar pedras e construir o seu próprio abrigo com a ajuda da corda. E consegui, foi aí que sobreviveu à tempestade.
A gruta que o homem branco encontrara pertencia a um urso branco.
É claro que ele desconhecia tal facto.
Só se apercebeu do “hóspede indesejado” quando sentiu o bafo do animal e o cheiro a peixe a inundar-lhe as narinas.
O urso saltou para cima do homem branco, mas este, com a ajuda da pequena pedra preta aguçada, feriu-o na pata e fugiu.
O urso branco correu atrás dele, deixando pegadas vermelhas na neve, mas depois desistiu, provavelmente sabendo que a tempestade apanharia o homem branco como a neve por ele.
Milagrosamente, o homem branco sobreviveu, apesar de ter estado enterrado na neve durante algum tempo.
Estava cheio de frio e extremamente cansado.
De repente lembrou-se do cheiro a peixe que provinha daquele desprezível animal.
-Provavelmente haverá um lago perto. – proferiu ele.
Olhou em volta e seguiu caminho.
Depois de muito andar conseguiu encontrar o lago.
O que ele desconhecia é que a alguns quilómetros atrás, o homem negro avistara-o e seguira-o.
O homem branco não reparou, talvez por estar tão faminto e cansado, ou então, porque a ideia de se afastar o mais possível do urso o confortava.
O homem branco como a neve aproximou-se do lago. Apesar de este estar congelado á superfície, havia peixes a nadar lá bem no fundo.
Andou sobre a superfície gelada do lago á procura de camadas de gelo mais finas. Quando as encontrou quebrou-as com a sua pedra preta aguçada e depois sentou-se e ficou à espera que algum infeliz peixe nadasse até à superfície.
O homem negro observava-o de perto.
E depois sucedeu algo inexplicável (coisa que acontecia muito frequentemente neste Vale Sem Fim).
Um peixe nadou até à superfície e piscou-lhe o olho e sorriu-lhe!
-Mas que estranho, não é possível... – disse o homem branco, pensando que os seus olhos o enganavam.
Apesar disso tentou apanhá-lo, e conseguiu, só que depois o peixe lançou-lhe um outro sorriso e puxou-o para dentro de água. O homem branco não o consegui evitar pois uma das suas mãos parecia estar colada ás escamas do animal.
Felizmente, o “seu terrível inimigo” conseguiu salvá-lo atirando-lhe a sua corda e puxando-o para a superfície com alguma dificuldade, pois o estranho peixe sorridente era muito forte.
Em seguida o homem negro desapareceu como apareceu. Num piscar de olhos!
O homem branco murmurou algo parecido com obrigado e desmaiou.
O homem negro também desmaiou, provavelmente devido á fraqueza que o atingiu lentamente como uma doença, contaminando todo o seu corpo.
Acordaram, desta vez um ao lado do outro e rodeados por um imenso deserto onde o sol e a areia reinavam.
Desta vez não houve guerra, só uma simples troca de olhares. Desta vez caminhavam juntos e com o silêncio entre eles. Porquê? Talvez porque sabiam que a morte era mais do que certa.
O silêncio unia estes homens mais do que as palavras...
Sentaram-se na areia e embrenharam-se no arcano da memória possivelmente procurando alguma réstia de paz e respostas para milhões de perguntas.
Subitamente, pequenas gotas de água começaram a cair do céu, como pequenos fragmentos de esperança líquida.
Os dois homens receberam esta dádiva de braços abertos.
A chuva nunca lhes soube tão bem como naquele momento.
Mas a felicidade desvaneceu quando avistaram uma onda gigante ao longe (de onde aparecera era uma pergunta que não valia a pena fazer).
Enorme. Gigantesca. Mortífera.
Estava a aproximar-se com uma velocidade incrível.
As pequenas gotinhas ainda caíam e escorriam pelas faces de ambos.
Estes uniram as mãos cheias de esperança líquida.
Duas miseráveis criaturas sedentas de guerra estavam agora unidas por um gesto incrivelmente bonito.
A onda estava muito perto deles.
-Adeus, perdoa-me... – disseram os dois ao mesmo tempo numa voz melíflua.
Foi então que foram engolidos pela onda...
Acordaram, mas agora estavam nas suas camas, cobertos de água, de areia e de arrependimento.
Chovia lá fora.
A paz foi estabelecida e as duas tribos foram unidas. Agora cultiva-se esperança e colhe-se alegria. E que bem que sabe!
Agora pode-se afirmar que há milhares de anos atrás, rodeadas por íngremes montanhas e felicidade, viviam duas tribos lideradas por um homem negro como o carvão e por um homem branco como a neve, terríveis amigos!
E agora também se pode afirmar que o impossível aconteceu... num dia de chuva.


                          Vladyslava_Escalão D_Prosa 


Num dia de chuva
Estava a chover
deitei-me na cama.
Através dos meus sonhos quis desaparecer,
fechei os olhos, acabara-se o drama…

Comecei a sonhar...
Era tudo tão esporádico…
lá podia amar
sem nada parecer trágico.

O meu coração batia frenético
tal e qual como no primeiro amor.
Neste caso já não estava cético,
Tudo tinha incrível valor!

Era tudo tão real
o sentimento mutuo em ascensão,
o amor ideal
que acendia a chama no meu pequeno coração.

Acordei alvoraçada
com a chuva a bater forte na janela,
algo destroçada…
eu já não era mais a donzela!

A chuva levou-me o sonho,
a loucura simples de acreditar.
Agora esboço um sorriso tristonho
cada vez que sei que a chuva vai voltar…

Num dia de chuva,
eu quis espairecer...
No meu sonho ultrapassei a curva
que me fez perceber…
                                                                                                            
Que um sonho é o que inconscientemente
queremos viver,
aquele amor ardente
a loucura, que nos faz querer ser.

Ana Oliveira_ Escalão E_Poesia
 

Num dia de chuva


Caminhei debaixo do sol ardente 
em busca do amor,
foi tudo tão diferente,
não usei Prada nem Dior... 

Olhei para o mar,
mas foi em vão!
Eu queria o luar 
e tu a dar-me a mão.

A noite caiu de repente.
Quando olhei lá estavas tu,
de teu olhar eloquente
saído do velho baú...

Acordei, a chuva batia-me no rosto,
perdi-te na noite sem saber...
A chuva levou-te para o sol-posto 
eu nem queria crer... 

Que loucura
veio a chuva avassaladora,
perdi a compostura... 
esqueci o outrora.

Em dias chuvosos 
a tempestade vem,
lembro os teus abraços calorosos 
que só o sol tem... 

Num dia de chuva 
é difícil viver,
é como que ficar viúva
Ainda estou para perceber.

                                                                                     Ana Oliveira_Escalão E_Poesia



Num dia de chuva
Lá estava a cinderela
sentada de perna cruzada,
ele espreitou pela ruela
ela sentiu-se vigiada..

Tirou a sandália brilhante
correu pelas pedras da calçada,
viu algo cintilante,
era uma estrela molhada!

Estrela esta distinta
de fato preto e gravata,
postura já há muito extinta
e uma bela coroa de prata.

Era um príncipe que passeava a chover,
cabelos loiros e charmoso...
Tão bonito que ousei dizer
Oh! Que deus bondoso!

A chuva não parou,
Mas ela não se importou com o cabelo.      
Quando ele a chamou
Ai! Que príncipe tão belo!

Ofereceu-lhe o seu casaco
Para a agasalhar,
ele pareceu-lhe um bebé pato
com os cabelos no ar...

Na verdade ela gostou,
tudo nele era íntegro e ideal.
Era o homem com que sempre sonhou
tão sincero que lhe pareceu surreal.

Ele abraçou-a com sinceridade,
ali ficaram na chuva morosa...
Ele era a sua verdade,
Ela sentia-se poderosa.

A chuva parou,
ele foi embora...
Ela um pouco chorou
Ele disse: princesa não chora!

Ele saiu com a promessa de voltar,
Ela animou
rezando à chuva para regressar.
Ela para sempre esperou...

Num dia de chuva
há um príncipe sozinho,
um casaco que serve como uma luva
e claro, um nervoso miudinho.


                                                                                           Ana Oliveira_Escalão E_Poesia



 “NUM DIA DE CHUVA…”



GOSTO DA CHUVA!

QUANDO TEMOS O SOL POR TRÁS E CHOVE À NOSSA FRENTE, VIMOS O ARCO-ÍRIS.

QUANDO CHOVE OS CARACÓIS SAEM DAS SUAS CASINHAS E VÊM TOMAR UM BANHO NAS GOTINHAS DE CHUVA…ELES TAMBÉM GOSTAM DO ARCO ÍRIS!


PING, PING,PING…CAI A CHUVA, UMAS VEZES DEPRESSA OUTRAS DEVAGARINHO…
 

Maria Figueiredo Simões_ Escalão A

 



“NUM DIA DE CHUVA…”



GOSTO DA CHUVA E GOSTO DO SOL!
OS DOIS JUNTOS, FAZEM O ARCO-ÍRIS.
HÁ UMA LENDA QUE DIZ QUE NO FIM DO ARCO-ÍRIS HÁ UM TESOURO…AH! SE EU O ENCONTRASSE…

SE EU O ENCONTRASSE, FICAVA RICO…COMPRAVA MUITAS COISAS PARA MIM, MAS TAMBÉM DAVA MOEDAS A TODA A GENTE!


Martim  Ângelo Figueiredo_Escalão A

“NUM DIA DE CHUVA…”




EU NÃO GOSTO DA CHUVA, PORQUE NÃO GOSTO DE ME MOLHAR…

MAS ADORO A CHUVA E O SOL PARA FAZER O ARCO-ÍRIS.
O ARCO-ÍRIS É MUTO COLORIDO E BONITO.
FAZ-ME FELIZ E FAZ-ME SONHAR.

TAMBÉM GOSTO DA CANÇÃO DO CARLOS PAIÃO “ARCO-ÍRIS, ARCO-ÍRIS, QUANTOS HOMENS SÃO PRECISOS PARA SONHAR?
 
 
Roberto Cabete Parreira_Escalão A