terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Leitura recomendada

O livro que agora se apresenta é magnífico. Trata-se de uma colectânea de sete contos, para além da novela que dá título ao livro, Tanta Gente, Mariana.
Maria Judite de Carvalho (1921-1998) retrata muito bem o mundo feminino dos anos 50 e 60 em Portugal, com os seus preconceitos sociais e políticos. “A literatura feminina de inícios do século XX revela-se lutadora, revolucionária, feminista. As autoras parecem ter um único intuito: o de denunciar a situação da mulher como vítima da opressão masculina. Esta postura prende-se com o facto de as mulheres pretenderem alterar a atitude da sociedade para com elas. As obras de autoria feminina, produzidas nos anos 50, têm o propósito de despertar a consciência das pessoas sobre a condição da mulher na sociedade. As mulheres-escritoras querem começar a ser tratadas da mesma maneira que os homens, quer no domínio da literatura, quer no da vida comum. Para isso utilizam frequentemente protagonistas femininas que servem de porta-voz das suas opiniões, sentimentos ou visões do mundo.” (in Tanta gente, Mariana e ela tão só, de Ana Paula Fernandes)

Mas os textos não são datados, isto é, não se constroem apenas nesse contexto histórico, fora do qual perdem significado. A autora escreve essencialmente sobre o que é ser mulher, sobre esse mundo de solidão e silêncio que caracteriza o feminino. O silêncio… os contos estão cheios de silêncio. Há um particularmente bom: muito breve, carregado de densidade e de conflito, ingredientes básicos dos bons contos, é o conto “A Mãe”. Mas também o conto “Noite de Natal”, sobre duas mulheres, mãe e filha, que matam um homem, o pai, é muito interessante.
“A partir de imagens de um quotidiano quase banal, a autora cria narrativas de uma grande densidade emocional em que o existencial se revela. Da mulher, figura insistentemente presente, sublinha a solidão, o mal-estar social e a aspiração à maternidade, aspectos mal resolvidos e temas de questionamento constante.” (in Tanta gente, Mariana e ela tão só, de Ana Paula Fernandes)

Vale mesmo a pena ler.
Entretanto, para aprofundar, e sobretudo para quem queira fazer uma apresentação deste livro, aqui fica o link para uma análise bem feita, bem escrita e original, que poderá servir de base ao trabalho, de onde retirámos as citações aqui incluídas.
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/zips/afernandes01.pdf

Silvéria Ramos (18 Janeiro 2011)

1 comentário:

  1. Gostei da sugestão. Conhecia o título, mas não sabia do universo que continha. Vou procurar ler logo que possa. Obrigado.
    Caribaci

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