domingo, 29 de março de 2015

A LINHA DE UM TEMPO


O trabalho que se apresenta foi produzido para a disciplina de Literatura Portuguesa. O Miguel analisou as fotografias vencedoras do concurso da National Geographic e, inspirado por elas, escreveu este texto. As fotos foram retiradas do endereço indicado.




 

A LINHA DE UM TEMPO

Quando nascemos e somos crianças, sentimos o pleno gosto da liberdade, da alegria, não sentimos medos, receios e, muitas das vezes, nem damos conta de que o perigo está à espreita.

E assim vamos crescendo… até que, na adolescência, começamos a sentir que somos pessoas diferentes rodeadas por pessoas tão iguais que não nos compreendem, não veem e não aceitam as nossas diferenças. Incompreensão é a palavra de ordem.

E assim vamos vivendo: isolados, enfiados no nosso mundo, rodeados de tanta gente que não nos diz nada. Resta o isolamento nesta teia de relações sociais.

E continuamos a crescer. Tornamo-nos adultos e somos a pressa das relações. Rodeados de tanta gente, não vemos ninguém, ninguém nos vê.

Vamos perdendo a nossa capacidade de convívio e de diálogo. Os problemas surgem e com eles a incapacidade de os resolver. A única solução por vezes encontrada é o virar as costas ao problema e ao outro. E assim se desfazem laços que nunca se ataram. E assim, damos lugar aos nossos instintos mais animais e lutamos de forma feroz e bruta por coisas às vezes insignificantes.

Tentamos mudar o rumo da nossa vida, tentamos dar o salto que falta e, às vezes, caímos no precipício.

A dor passa a fazer parte de nós e a única vontade que sentimos é a de voltarmos a ser crianças no local onde outrora nos sentíamos seguros e amados, pois concluímos que a única coisa que nos falta é alguém que nos ceda um ombro amigo e que nos faça sentir novamente a paz a tranquilidade e a harmonia há tanto tempo perdidas.

Neste jogo de lutas interiores, neste viver ao lado da tempestade, acende-se a luz da esperança, da crença em algo melhor, num arco-íris que anuncie que tudo vai melhorar.

O tempo não para. As rugas e as gorduras e a flacidez da pela fazem-se sentir de forma mais marcada. É a velhice. E é aqui que, ou por causa da idade, ou por causa da fragilidade que a idade traz, nos voltamos a aproximar dos outros. Esses outros que começamos a olhar como alguém parecido connosco. Porém, a solidão começa a instalar-se de forma mais aguda. A velhice vota as pessoas ao esquecimento, numa vida que ainda se torna mais triste, mais amarga, mais sofrida.

Soltam-se os gritos mudos num pedido de ajuda, mas que ninguém ouve ou sente. Passamos a ser o representante da nossa tribo: cheios de experiências e sabedoria mas sem ninguém com quem partilhar.

Começa-se a olhar para o tempo que passou e que ainda falta passar e sentimos que somos um prédio em ruínas. Somos a ruína do que já fomos e sentimos que o tempo já não volta e que as oportunidades já se esgotaram. Ficamos a olhar para o passado e a pensar que poderíamos ter sido muito mais felizes se, pelo menos, tivéssemos feito um esforço para atar os laços que não quisemos atar e olhar para o horizonte com uma perspetiva de que podíamos ter tornado o nosso mundo bem melhor.

Miguel Freitas
10ºG - Nº17

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