Num dia de
chuva
Caminhei
debaixo do sol ardente
em busca do amor,
foi tudo tão diferente,
não usei Prada nem Dior...
Olhei para o mar,
mas foi em vão!
Eu queria o luar
e tu a dar-me a mão.
A noite caiu de repente.
Quando olhei lá estavas tu,
em busca do amor,
foi tudo tão diferente,
não usei Prada nem Dior...
Olhei para o mar,
mas foi em vão!
Eu queria o luar
e tu a dar-me a mão.
A noite caiu de repente.
Quando olhei lá estavas tu,
de teu olhar
eloquente
saído do
velho baú...
Acordei, a chuva batia-me no rosto,
perdi-te na noite sem saber...
A chuva levou-te para o sol-posto
eu nem queria crer...
Que loucura
veio a chuva avassaladora,
perdi a compostura...
Acordei, a chuva batia-me no rosto,
perdi-te na noite sem saber...
A chuva levou-te para o sol-posto
eu nem queria crer...
Que loucura
veio a chuva avassaladora,
perdi a compostura...
esqueci o outrora.
Em dias chuvosos
a tempestade vem,
lembro os teus abraços calorosos
que só o sol tem...
Num dia de chuva
é difícil viver,
é como que ficar viúva
Ainda estou para perceber.
Ana
Oliveira_Escalão E_Poesia
Chamavam-lhe ‘’Flor’’, mas sinceramente não sei o seu verdadeiro nome mas deve ter algo a ver com uma planta…
Ela nasceu em casa, pois a sua mãe vivia no campo e era difícil de ter acesso a uma ambulância ou um médico para a ajudar.Flor, foi a sexta filha da família, além da sexta foi também uma das que alcançou mais objetivos.
Um ano depois de ela nascer, teve mais um irmão. Nessa altura, decidiram mudar de casa, optaram por vender a casa do campo a uma família da cidade, eles costumavam conversar, e ambas as famílias estavam de acordo que na cidade tudo era mais barulhento e movimentado, mas a família da flor tinha uma opinião diferente, que na cidade podiam viver com melhores condições e conseguir começar uma vida nova. Para conseguirem sustentar aquela grande família, que em 1982, a data em que se mudaram, já era constituída por dez irmãos, um pai e uma mãe.
Já na cidade os pais trataram de a matricular para uma nova escola. Mesmo estando na cidade vivia numa das partes mais escondidas e afastadas da parte central da cidade, Flor dizia que todo o caminho até à escola parecia um caminho de ''cabras''. No primeiro dia de aulas foi sozinha para a escola, e a pé, o caminho até lá durava mais de 25 minutos... 10 minutos depois de Flor sair de casa começou a chover, ela não se importava muito, pois quando chegava a escola, toda molhada, davam-lhe roupas novas e ela podia leva-las para casa e usufruir delas.
Flor adorava chuva, era a maior admiração dela a seguir aos animais que ela guardava na quinta, antes de se mudar.
Um dia Flor chegou a casa e deparou-se com um novo objeto na mesa da sala.Era um rádio, ela não fazia ideia de para que é que aquilo servia, saiu da sala e foi perguntar à sua mãe:
- Mãe, que coisa é aquela em cima da mesa?- perguntou Flor com os ombros encolhidos.
-Chama-se rádio...-respondeu a mãe num tom de brincadeira.
-Rádio? E serve para quê?!
-Vamos para a sala, chama os teus irmãos e já vais descobrir.
-Mas...mãe eu queria tanto ir brincar lá pra fora...
-Está a chover filha, para isso é que eu trouxe o rádio.
A Flor foi chamar todos os seus irmãos para irem ver o que fazia aquele objeto ''estranho'' e ''desconhecido''. Chegaram à sala e a mãe deles pôs o rádio a trabalhar, começou a dar uma música que eles nunca tinham ouvido... aliás era provavelmente a primeira música que eles estavam a ouvir. Flor começou a perguntar de onde vinha o som, ela pensava que o som vinha de uma orquestra de dentro da parede. Flor não parecia gostar muito daquela ''coisa''.
Saiu pela porta das traseiras em pezinhos de lã, para que ninguém a ouvisse...
...Como é óbvio, foi brincar para a chuva...em primeiro lugar pegou num saco de plástico para guardar a água da chuva (ela não tinha baldes em casa...), depois esperou debaixo do parapeito da grande porta que dava do jardim para a casa, para que começasse a chover muito. Quando a chuva começou a engrossar, a Flor saiu debaixo do parapeito e estendeu os braços com os saco aberto. Passados alguns minutos já tinha o saco a transbordar. A chuva era cada vez mais forte, mesmo com o saco já cheio Flor continuava ali às voltas, como se fosse muito divertido apanhar uma constipação. Começaram a cair ''pedras de gelo'', ela tinha apenas 11 anos e nunca tinha visto aquelas pedras, Flor pensou que era um fenómeno inédito, e que ela era a primeira pessoa que via aquilo, porque era a primeira vez que ela via ''aquilo''. Ela despejou logo a água fora do saco e começou a enche-lo de granizo para poder ir mostrar aos pais e aos seus irmãos.
Foi a correr rapidamente para casa, para mostrar aquilo a toda a sua família.
-Mãe! Mãe! Vem ver o que eu encontrei!-gritava Flor mesmo antes de ter chegado a casa .
-Vês mãe...?!
-Vês mãe...?!
-O quê água num saco?!-Perguntou a sua mãe com um ar de furiosa.
-Não...Hum...?!Mãe, ainda à 10 minutos atrás, esta água era sólida, branca e fria!
...Depois de uma longa conversa com a sua mãe, Flor ficou de castigo por ter ido para a rua, quando a sua mãe lhe tinha pedido para não o fazer. Além de uma constipação, Flor ficou de castigo durante 1 semana, e encheu o chão de água, para o seu bem passou a saber que aquelas pedras não passavam de água congelada.
Já era quase Natal...ela queria fazer algo de bom naquele Natal, algo que lhe desse prazer. Tinha ouvido naquela ''coisa'', chamada rádio, que no dia de Natal ia estar um tempo chuvoso e com vento forte, ela achava que já chegava de tristeza. Toda a gente se entristecia com aquele tempo triste e cinzento, mesmo sendo natal. Flor era provavelmente a única pessoa que gostava de chuva e se divertia com ''ela''.
Flor ouviu uma conversa entre sua mãe e sua irmã mais velha, tinham falado sobre os mortos que tinham ocorrido desde o início daquele frio Inverno, e suas previsões, a maior parte eram sem abrigos.
Então, ela contou à sua mãe o que tinha ouvido da conversa, contou-lhe a sua opinião em relação ao ajudar os sem abrigo. A sua mãe concordou e adorou a sua ideia. A ideia que Flor teve foi pedir ajuda a todos as empresas de ajuda aos carenciados, e ,sobretudo pedir ajuda a toda a sua família, vizinhos...Flor queria fazer daquele Natal o renascer de um novo homem (em geral) ,um homem que gostasse de ajudar, não ligar só aos materiais...ela queria fazer daquele mundo um mundo melhor, sem pessoas diferentes.
Para começar a sua tarefa distribuiu tarefas por toda a sua família, ela e a sua irmã mais velha foram pedir autorização para ''pôr o plano em prática'', a sua mãe e o seu pai foram pedir ajuda a todas as empresas, e o resto dos irmãos foram distribuir panfletos por todas as ruas da cidade.
Ainda antes do dia de natal, já tudo estava pronto, os sem-abrigo estavam a receber uma casa temporária e uma oferta de emprego para que pudessem fazer as suas vidas sem interrupções, e não pedir mais dinheiro a ninguém. É óbvio que ainda haviam aqueles carenciados que pareciam não querer aceitar, e como o bom provérbio diz: ''não se deve dar o peixe, deve-se ensinar a pescar''.
Tudo parecia estar a correr bem, Flor era popular e bem vista em toda a cidade, tal como toda a sua família... até que um dia sua mãe teve um ''AVC'', não foi nada de mais, mas o pior foi a partir dali, sua mãe começou a ''perder um bocado de si'' de dia para dia.
No dia de natal toda a sua família estava sentada à mesa, a sua mãe tratou de cortar o peru. Depois a mãe de Flor foi sentar-se no banco da casa de banho...foi quando caiu do banco...Alguns minutos depois Flor apercebeu-se disso e pediu para chamar a ambulância. No hospital os médicos deram a boa notícia de que a mãe estava a recuperar. Mas não era bem assim, em casa o pai deles tratou de dar a notícia de que a mãe tinha morrido... todos desataram a chorar...exceto Flor. Flor não chorou porque ela sentiu que sua mãe não tinha morrido, tinha acabado de nascer. Flor tinha uma teoria, que quando os filhos já não precisam dos pais, os pais partem...para um lugar melhor.
Flor sentiu que o que ela fez antes do dia de Natal tinha sido um sinal de como ela já não era uma criança, a sua mãe não partiu, agora a sua mãe podia vê-la sempre, e saber de tudo o que ela fazia. Sua mãe partiu, o que não fez daquele dia o dia cinzento de Flor, transformou aquele dia chuvoso e cinzento de Natal num lindo e perfeito dia de Sol.
João Gomes_Escalão C_Prosa
Chuva e Lágrimas
Esta semana tem sido uma loucura! Desde que recebi a
notícia de que os últimos elementos da minha família tinham morrido, não tenho
conseguido pregar olho ou comer alguma coisa decente. Mais tarde ou mais cedo,
isso iria acontecer de qualquer forma. Os meus tios sempre cuidaram bem de mim
desde que os meus pais morreram num trágico acidente rodoviário, mas a sua saúde
há muito que andava abalada. Mas acontecer agora era completamente imprevisto.
Quanto aos
meus pais, não sei o que pensar, até porque, com seis anos de idade, não nos
apercebemos da gravidade da situação e apenas queremos um sítio seguro para
estar a brincar sossegados. Não lembro de nada realmente.
Agora sinto aquilo que não sentira nessa altura. O tio
Ben e a tia Mary sempre olharam por mim como fariam pela filha que eles nunca
tiveram e, até entrar para a Universidade em Denver, sempre fui muito chegada a
eles. Mesmo depois de conquistar o meu espaço e ir viver para um pequeno
apartamento junto ao centro da cidade, ia sempre visitá-los quando, por um
milagre qualquer, conseguia um furo na minha agenda. Nos últimos dois anos, só
tinha estado com eles uma vez, no dia de Ação de Graças do ano passado. A
trabalhar na redação do “The Denver Post”,
mal encontro tempo para mim mesma. Vivo num frenesim para conseguir manter-me
na indústria do jornalismo.
Neste momento não sei como ainda consigo conduzir até à
pequena casa no meio dos montes que existem nas proximidades de Denver. A
viagem não é muito longa, mas, com esta chuva e a falta de descanso, posso
muito bem despistar-me com o carro num piscar de olhos. Lembro que foi justamente
o cansaço que levou ao acidente daqueles que me colocaram no mundo e que nunca
cheguei a conhecer realmente. Sei como eram apenas porque a tia Mary gostava
muito da sua irmã e ainda guardava algumas fotografias da minha mãe. Mãe…
palavra estranha para chamar a um fantasma que vive na minha mente e apenas
nela.
Encosto o carro junto a um café de beira de estrada para
tomar um café ou algo para me recompor. Com a semana que me deram na redação,
sou capaz de ter tempo para organizar todas as coisas que deixaram pra mim,
reorganizar as minhas ideias e seguir em frente. Os meus tios não iriam querer
que eu me fosse abaixo com esta situação, mas que tirasse algum tempo pra mim e
que voltasse com toda a força. Mas será que eu serei capaz?
Peço um café duplo ao empregado de balcão e alguma coisa
rápida para comer. Na televisão, anunciam muita chuva para esta noite. Não
posso perder muito tempo ou então terei de dormir no meio das memórias que
ainda tenho dos meus tios e isso é a última coisa que eu quero fazer. Pelo menos,
enquanto não estiver completamente confiante em mim mesma. Iria ceder sob uma
situação dessas.
Corro até ao carro sob uma chuva fina e prossigo até à
pequena casa. Ao chegar, vejo que nada mudou desde a última vez que estive aqui:
os mesmos cortinados vermelhos com renda permanecem à espreita através das
janelas da sala e o poço junto da pequena horta continua na mesma, uma
construção por acabar, o estado que apresenta desde o ano em que o tio deixou
de poder fazer grandes esforços. Sem filhos, primos, sobrinhos, irmãos ou
qualquer outro tipo de parentes, nenhum de nós os três levou a cabo a difícil
tarefa de fazer um bem merecida reforma àquele lugar, por falta de tempo ou de
condições de saúde.
Pisar novamente o alpendre torna-se mais difícil do que
eu pensava. Mesmo com uma chuva um pouco mais forte do que a que caía quando
abandonei o pequeno café, não consigo dar o primeiro passo durante largos
minutos. Quando finalmente o faço, a sensação é quase eletrizante e surreal.
Entrar na mesma casa onde cresci e fui feliz, sabendo que os braços carinhosos
e acolhedores da tia Mary não vão estar estendidos à minha espera, evoca
novamente as lágrimas que têm acompanhado as minhas noites em claro.
Abro a porta e aquele cheiro tão familiar da minha
infância que me invade torna inevitável a chuva de lágrimas que é acompanhada
pela sinfonia de milhões de gotas que caem do céu. Fecho a porta e vou até à sala
e, em vez de ser forte como pretendia e como prometi a mim mesma ser quando
este momento chegasse, a única coisa que faço é deixar o meu casaco molhado
pelo chão e aconchegar-me numa manta que estava perfeitamente dobrada por
aquelas mãos habilidosas que eu tão bem conhecia.
Ali fiquei
por horas. Entre sonhos sobressaltados passei o resto daquela tarde, aninhada
num dos sofás da sala.
Quando finalmente consigo libertar-me daquele estado de
letargia, já são quase oito horas da noite e, com a escuridão e o meu estado
emocional, nunca iria ser possível voltar para casa sem perigo. Poderia até matar
alguém pelo caminho. Não. Não gosto da ideia, mas tenho de ficar durante a
noite.
Vou até à entrada e encontro uma lanterna sem pilhas. Que
bom! Sem eletricidade e uma lanterna sem pilhas não consigo ver mais do que dois
metros à minha frente. Com cuidado vou até ao andar de cima à procura de pilhas
na sala de costura. Encontro algumas numa gaveta e consigo ligar a lanterna. A
luz não é muito forte, mas é o suficiente para que eu consiga organizar algumas
coisas ao longo da noite, pois não planeio conseguir dormir esta noite.
Saio da sala de costura e vou até ao antigo escritório do
tio Ben ver se consigo impor alguma ordem àquele mundo de papéis e documentos que
ele guardava ali. Ainda consigo lembrar a forma hilariante como o tio costumava
dizer que, aos olhos dos outros, podia parecer que aquele escritório estava num
caos, mas que ele sabia muito bem onde se encontrava cada coisa. Agora estava
tudo coberto por uma fina camada de pó e envolto em memórias felizes e
extremamente dolorosas. Não vou sair a correr daqui apesar de toda a dor que
possa estar a sentir agora. Tenho de ser forte! Começo a tentar compreender se
havia algum tipo de padrão na forma como ele juntava as suas coisas, mas parece
que tudo está aleatoriamente agrupado e desisto ao fim de algum tempo.
Como é que vou conseguir “livrar-me” de tudo o que está
nesta casa quando tudo evoca aquilo que eu não quero esquecer e que tem mantido
um turbilhão de emoções e ansiedade às voltas dentro de mim? Não consigo levar
tudo para o minúsculo apartamento onde vivo e deixar tudo como está fechado
nesta casa também não é uma alternativa, pois ela estará abandonada enquanto eu
estiver em Denver e as probabilidades de ser vandalizada não são assim tão
baixas se estiver desabitada. Pensarei em alguma coisa noutra altura.
Decido abandonar o escritório e ver se ficou algum
enlatado na cozinha mas, antes de sair do meio daquela confusão de papéis,
reparo num brilho metálico ao lado de um dos grandes quadros que o tio mantinha
ali. Direciono o feixe de luz para o brilho que tinha avistado e descubro que é
uma chave que nunca antes tinha visto ali. Estava delicadamente posicionada num
gancho. Talvez seja a chave de uma daquelas gavetas misteriosas que o tio
mantinha meticulosamente trancadas desde que eu consigo lembrar-me. Agarro a
chave e, por força da curiosidade que eu sempre tive, vou até ao móvel no fundo
do escritório e tento abrir cada uma das gavetas até ter sucesso. Quando uma
delas finalmente se abre, a única coisa que encontro são algumas resmas de
papel branco e uma pequena caixa que continha uma nova chave e um pequeno mapa
de toda a propriedade que lhes pertencia.
Arranjo algum espaço em cima da secretária e abro o mapa.
Nunca pensei que eles possuíssem uma área tão grande à volta daquela pequena
casa. Analiso aos poucos os pequenos detalhes que o mapa fornecia e descubro
que existe um pequeno lago e um bosque não muito longe dali e que faz parte da
propriedade. O mais estranho era que eu nunca tinha ficado a saber da sua
existência e que parecia existir um pequeno abrigo junto a esse lago. Porque é
que eles nunca falaram da sua existência? Tantas foram as tardes de verão em que
eu teria adorado ir brincar para um lago ou andar com a tia Mary por um bosque.
O que será que os levou a ocultar-me esse pequeno paraíso mesmo junto à casa?
Terá sido por isso que nunca pude ir mais longe do que o fim do nosso pequeno
pomar? Aquilo era demasiado estranho para ser verdade. Por certo eles teriam as
suas razões.
Vou até à cozinha no andar de baixo e, enquanto saboreava
as últimas latas de salsichas e milho que consegui encontrar, analiso com algum
cuidado aquele estranho mapa. Uma coisa é evidente: pelas dobras e marcas que o
mapa tem, este foi utilizado várias vezes.
Depois de
comer, vou até à entrada com algum cuidado e procuro por um dos impermeáveis da
tia Mary e um par de botas. Coloco as botas e o impermeável e encontro uma
lanterna mais potente a um canto da sala junto do cesto da lenha. Todas as
dúvidas levantadas por aquele mapa afastaram a dor que tinha estado a moer-me
durante os últimos dias. Uma chama tinha incendiado os meus instintos
jornalísticos e não custava tanto estar ali.
Ainda chovia
com alguma força quando abri a porta, mas a lanterna que tinha encontrado proporcionava
visibilidade suficiente para conseguir distinguir o caminho que o mapa
indicava. Segui por dentro do pomar e, depois de chegar ao seu fim, fui sempre
a direito pela colina abaixo. Ao olhar para o chão, notava-se que estava no
caminho certo, pois havia marcas na direção em que eu seguia, quase como se
alguém tivesse passado por ali milhares de vezes e tivesse deixado vestígios do
mesmo caminho que fez. Terão sido os meus tios?
As dúvidas
enchiam a minha mente e, sem dar por isso, consegui chegar ao que parecia ser o
bosque que estava representado no mapa. Volto a olhar para o meu guia, agora todo
molhado, e concluo que o lago e o tal abrigo ficam a pouco mais do que cinco minutos
de caminhada se seguir a orla da vegetação. Quando avisto o lago, a chuva
decide dar algum descanso e para por algum tempo. Aproveito para recuperar a
respiração e tentar perceber porque é que nunca pude vir até aqui quando parece
ser um lugar tranquilo. Avisto também o pequeno abrigo presente no mapa e
decido ir até lá inspecioná-lo.
Ao
aproximar-me dele, verifico que a porta está trancada e que todas as janelas
estão bloqueadas por dentro com algumas tábuas. Não existe nada à volta senão o
lago e aquele pequeno abrigo. Sento-me junto à porta e começo a pensar que
talvez sejam apenas invenções, mero produto da minha imaginação que tenta
desesperadamente ocupar-se com outras coisas que não a perda dos meus tios. Mas
isso não explicava porque é que eu nunca soube daquele lugar ou porque é que o
tio Ben guardava aquele mapa com tanto cuidado junto daquela chave. A chave!
Levanto-me
rapidamente e tiro a chave de um dos bolsos das calças e tento usá-la para
abrir a porta. A tentativa dá resultado, mas preciso fazer alguma força para
conseguir empurrar a porta. Parece que o pequeno abrigo não vê a luz do dia há algum
tempo e o ar parece pesado devido a isso. Tento perceber o que tem sido
guardado aqui dentro durante tanto tempo. Ilumino as coisas mais próximas e
percebo que são papéis e alguns dossiês. Numa das paredes reparo que existe um
grande placar coberto com artigos de jornal e outros documentos. Aproximo-me
para poder ver melhor e… Não pode ser verdade! Porque é que fotos minhas de quando
era pequena estão estampadas nos recortes?
Pouso a
lanterna numa posição que permita que eu tenha uma boa visibilidade e começo a
analisar as manchetes: “Casal Harlington é tragicamente assassinado e deixam
uma filha!”; “Casal brutalmente assassinado!” O que significa tudo isto? Porque
é que usaram a minha imagem? Casal Harlington? Brutalmente assassinados? O que
fazem todas estas coisas aqui?
Tudo isto é
demasiado para mim! Primeiro, a morte dos meus tios e, agora, um pequeno abrigo
repleto de jornais britânicos que afirmam coisas que eu não compreendo! Deve
haver mais indícios ou pelo menos informações que expliquem tudo entre os
papéis que estão aqui. Começo a procurar alguma coisa que diga que isto tudo
não passa de um engano.
Entre papéis
de jornais e documentos encontro algo que talvez esclareça alguma coisa. Começo
a ler algumas páginas do que parece ser troca de correspondência entre o tio
Ben e alguém com uma caligrafia que não reconheço: “Espero que esteja a correr
bem. As autoridades ainda não conseguiram nenhuma informação sobre o vosso
paradeiro. Acho que vocês conseguiram finalmente o que queriam: a vossa miúda
de volta.” Releio, intrigada: “a vossa miúda de volta”?
O desespero
acaba de tomar conta de mim. Deixo as cartas caírem e expludo num mar de
lágrimas. Mesmo que estivesse alguém por perto nunca ouviria os meus gritos de
aflição devido à chuva que voltou com toda a força. Nada disto faz sentido. Não
pode ter acontecido tal coisa. Ou será que aconteceu?
Tento reunir as pontas soltas aos poucos, procuro
analisar as notícias e algumas cartas que consegui reunir. Entre soluços e
pausas que fui obrigada a fazer para superar as verdades mais cruéis, acabei
por descobrir que afinal não eram os meus tios. Tudo o que vivi até hoje não
passou de uma falsidade? Uma história inventada?
Vivi uma
vida forjada e mantida em segredo no interior dos Estados Unidos aos cuidados de
um casal que após assassinarem brutalmente os meu verdadeiros pais levaram-me
para longe. Volto a debruçar-me sobre as cartas com a caligrafia que eu não
reconhecera antes e aos poucos descubro que aqueles que se diziam meus tios me
tinham adotado quando ainda era um bebé mas, passado pouco tempo, perderam a
guarda para os meus pais biológicos que quiseram voltar atrás com a adoção. Pelos
vistos, os meus pais conseguiram ganhar a causa e surgiu uma disputa entre os
dois casais. E agora aqui estou eu: desolada e confusa com tudo isto!
Como foram
capazes de fazer-me isto? Como foram capazes de arrancar-me dos braços dos meus
verdadeiros pais por mero egoísmo de forma tão brutal? Por maior que fossem as
suas razões, nada justifica a morte de um casal. Nada justifica uma vida
inteira de mentiras!
A dor passou
a revolta e agora sinto-me vazia, quase como se me tivessem tirado tudo aquilo
que eu alguma vez amei e que eu nem tivesse lutado contra isso. Vivi todo este
tempo sem conhecer os monstros que viviam debaixo do mesmo teto que eu, mas
pelo menos descobri a verdade e sinto que agora sou capaz de enterrar todas as
memórias e seguir em frente de uma vez por todas.
Fecho o
pequeno abrigo e dentro de pouco tempo volto com uma garrafa de combustível e
um isqueiro. Rego todas as provas daquele episódio macabro da minha infância e
deixo as chamas consumirem o abrigo.
A chuva cai
sobre mim e lava as minhas lágrimas. Não interessa quem eles foram ou se eu os amei.
A pouco e pouco as lembranças deixam-me com as últimas lágrimas que estou
disposta a chorar por eles. Encerro de uma vez por todas este capítulo da minha
vida!
Diego Alves_Escalão E_Prosa
Dia de Chuva
Olá.
O meu nome é Iara. Hoje vou-vos contar uma história. A minha história.
Esta
é uma história dedicada a todos aqueles que pensam que um dia de chuva é apenas
aquele dia em que ficamos deitados no sofá a ver televisão enrolados numa manta
enquanto somos embalados pelo barulho constante da chuva lá fora.
A
certa altura da minha vida, dei-me conta de que um dia de chuva pode ser bem
mais do que isso. Vou então contar-vos a ‘’fase chuvosa’’ que passei quando eu
e os meus pais tivemos de ir viver para a Dinamarca devido a problemas
financeiros.
Tínhamos
acabado de chegar, desde que o avião aterrara ainda não tinha parado de chover.
Para mim, habituada desde sempre a ver um sol radioso no início de setembro
isto era absolutamente horrível!
Chegámos
àquela que seria a nossa casa daí em diante, era uma casa acolhedora, nem muito
grande, nem muito pequena, com um pequeno jardim à frente. Os meus pais
indicaram o meu quarto e deixaram-me sozinha para arrumar as minhas coisas. O
quarto já se encontrava mobilado e decorado em tons azuis (a minha cor favorita).
Tinha uma cama de casal encostada à janela que dava para um parque muito bonito
do outro lado da rua. Ao lado da cama estava uma mesinha de cabeceira na qual
estava pousado um candeeiro. No fundo do quarto havia uma secretária enorme e
na parede ao lado da porta estava um roupeiro branco também bastante grande com
um espelho no lugar das portas. Para meu delírio, no meio do quarto estava uma
cadeira de baloiço que deslizava para um lado e para o outro do quarto. Tenho
de confessar que adorei o meu quarto.
Pousei
as malas sem me preocupar em arrumar as coisas, puxei a cadeira para perto da
janela e sentei-me lá a olhar para a chuva que caía interruptamente. Comecei a
pensar em tudo aquilo que deixara em Portugal, os amigos, a família, a escola,
a dança, toda uma vida que tinha construído ficara agora para trás.
Perguntei-me
o que estariam a fazer todos aqueles que deixei em Portugal. Entre o meu grupo
de amigos tínhamos uma tradição: no último dia de férias de verão juntávamo-nos
para passar o dia na praia. Conversávamos, ríamos, fazíamos palhaçadas…. Enfim…
Éramos tudo aquilo que eu não era naquele momento: felizes.
Quando
dei por mim tinha lágrimas a escorrer-me pela cara em sintonia com a chuva…
Enquanto aqueles de quem eu mais gostava tinham passado o dia juntos a
divertir-se, eu tinha passado o meu último dia de férias numa horrível viagem para
um país desconhecido onde não conhecia ninguém e onde para qualquer lado que
olhasse só via chuva, nevoeiro e um céu cinzento que parecia estar prestes a
cair-me em cima.
Ia
começar as aulas no dia seguinte, sem tempo para me ambientar ou para conhecer
alguém. Tinha passado o verão a ter aulas intensivas de dinamarquês e já
entendia bastantes coisas apesar de continuar a engasgar-me sempre que me
pediam para falar. Ia por isso começar um ano atrás numa turma normal, sem
ninguém que não falasse aquela língua que eu tinha começado a odiar.
Quando
dei por mim tinha os meus pais a abanar-me para ir para a escola, tinha
adormecido na cadeira sem me dar conta disso. Olhei-me ao espelho e estava
horrível. Tomei um banho rápido, peguei na primeira roupa que me apareceu na
mala e enfiei os livros que os meus pais tinham encomendado pela internet na
mochila.
Mal
dei conta do tempo a passar e quando me apercebi estava na escola. O dia foi
muito longo e quando cheguei a casa deitei-me na cama e desatei a chorar
novamente. Nesse dia eu tinha sido a estranha, ninguém tinha tentado falar
comigo e os poucos que o tentaram fazer afastavam- -se pouco depois aos
risinhos por eu não conseguir falar como deve ser.
Chorei
como nunca tinha chorado, chorei por saudades, por frustração, por raiva dos
meus pais por nos termos mudado e ainda mais raiva de Portugal por nos ter
obrigado a isso, chorei por medo, por insegurança… Chorei por todos os motivos
e mais alguns.
Quando
acabei de chorar dei-me conta de que apesar de não ter caído uma pinga de água,
aquele tinha sido um dia de chuva. Na minha cabeça desenrolava-se uma
tempestade tremenda, interrompida ocasionalmente pelo trovejar dos meus soluços.
Esse foi o primeiro dos muitos dias chuvosos que se seguiriam.
E
quando me deitei nessa noite apercebi-me que não é preciso cair água do céu
para ser um dia de chuva. Basta nós sentirmo-nos no meio de uma horrível
tempestade, basta sentirmos que não há nada à nossa volta senão nuvens
carregadas de chuva que nos sufocam e nos impedem de viver a vida como deve ser.
Basta
sentirmos que estamos num Dia de Chuva.
Ana Gabriela Guedes_Escalão C_Prosa
Dia de Chuva
Num
dia de chuva decidi relembrar
As
memórias antigas,
E a
pessoa que eu era
Antes
de tudo começar a mudar
A
chuva cai lá fora
E
eu sozinha aqui estou
A
vida continua a girar à minha volta
E
eu sem saber para onde vou.
Do
outro lado da janela
A
chuva continua a cair,
Ouço
crianças a chapinhar nas poças
E
eu, sem conseguir sorrir.
Tudo
cai á minha volta,
Tudo
deixa de ter sentido,
De
repente tudo fica cinzento
E
eu apenas não consigo…
Não
consigo mais sorrir,
Não
consigo mais falar
A única
coisa que eu consigo fazer
É
chorar.
Chorar
em silêncio,
Na
escuridão
Ou
à luz das estrelas,
Apenas
na minha solidão.
As
lágrimas escorrem pela minha face
Incontroláveis
assim como a chuva
A
chuva que não quer saber,
Que
não para
A
chuva interrupta,
Indiferente
ao meu sofrer.
Vertidas
em gotas salgadas
Estão
as memórias dos tempos de outrora
Memórias
que não quero lembrar,
Mas
que também não consigo esquecer
Memórias
dos tempos de felicidade
Num dia de chuva…
Há milhares de anos atrás,
rodeadas por íngremes montanhas e ódio, viviam duas tribos lideradas por um
homem negro como o carvão e por um homem branco como a neve, terríveis
inimigos!
Viviam demasiado perto uns dos
outros e talvez fosse esse o motivo para tantos problemas, ou talvez, a
verdadeira razão fosse a teimosia, a incapacidade de raciocinar e a ganância
que os cegou e que os transformou em duas miseráveis criaturas sedentas de
guerra e de poder.
E eram estes infelizes seres que
guiavam o seu povo para a desgraça, ensinando crianças a odiar inocentes,
ensinando jovens a insultar os seus iguais, ensinando adultos a fabricar armas
e a incendiar os campos e os corações dos seus vizinhos e ensinando os mais
velhos a amaldiçoar o próximo e as futuras gerações que cultivarão as terras e
darão de beber ao gado quando estes idosos embarcarem no sono profundo e
eterno.
Era impossível haver paz entre
eles.
Havia guerras por tudo e por
nada!
Haveria guerra se as colheitas
fossem más, haveria guerra se chovesse muito, haveria guerra se estivesse muito
calor, haveria guerra se estivesse muito calor, haveria guerra se estivesse
muito frio, haveria guerra se algum objeto fosse partido e haveria guerra se a
mulher de um dos líderes partisse uma unha!
E o povo não se cansava de tantas
guerras?
A verdade é que eles só conheciam
esta vida e sabiam que se desobedecessem a alguma ordem eram severamente
castigados.
A terra ensopada de sangue e de
lágrimas das mulheres que perdiam os seus filhos marcavam o fim de uma guerra.
A mortandade governava esta
terra.
E assim viviam estas pessoas.
Rodeadas por íngremes montanhas e ódio onde a felicidade, e alegria e a paz
nunca chegaram e onde as guerras, a miséria e a desgraça perdurarão para
sempre.
E talvez assim acontecesse se a
Mãe Natureza não interviesse.
Esta, furiosa, resolveu castigar
os dois líderes enviando-os para o Vale Sem Fim, enquanto estes dormia
confortavelmente nas suas camas.
Aí aprenderiam a viver juntos e
sem guerras, depois voltariam para as tribos, onde espalhariam a alegria e a
paz.
Se tal não acontecesse, as suas
almas seriam condenadas a vaguear pelo Vale, com fome e sem poderem comer, com
sede e sem poderem beber, cansados sem poderem descansar…
A cada um deles foi dado um
objeto.
Ao homem negro como o carvão foi
dada uma corda e ao homem branco como a neve foi dada uma pequena pedra preta
aguçada.
Acordaram. E talvez preferissem
não o ter feito.
À sua volta avistaram uma densa
floresta. E como era escura! Terrivelmente assustadora!
Depois de admirarem a “magnífica”
paisagem aperceberam-se que estavam com fome, muita fome, demasiada fome, algo
que nunca tinha acontecido antes.
E nesse mesmo instante os seus
olhares cruzaram-se…
Nem a fome nem a guerra os
deteve. Guerra. Lutaram, partiram ossos, arrancaram cabelos… uma decisão muito
inteligente, deveras.
Estavam tão concentrados na luta
que não se aperceberam que estavam a ser rodeados por duas terríveis feras.
Só se aperceberam disso quando
lhes chegou aos ouvidos o roncar de um estômago que não pertencia nem ao homem
branco nem ao homem negro.
Assustados, levantaram-se e
correram em direção à floresta sombria, mas por diferentes caminhos.
Estranhamente, as feras não os
perseguiram.
Apesar de terem seguido
diferentes caminhos, ambos deixaram os seus valiosos e únicos pertences naquela
clareira.
Voltar para trás? Não, nunca. Mas
em nada como irão sobreviver?
Foi então que os dois homens
decidiram: comer e depois pensar.
Mas comer o quê? Após algumas
horas de cautela e de olhos bem abertos, conseguiram encontrar umas raízes
comestíveis.
Azedas mas suculentas, sabiam a mel. Quando se
está com fome até a mais dura côdea de pão satisfaz o apetite.
De barrigas meio cheias meio
vazias, engendraram um plano.
O homem branco como a neve
decidiu cobrir-se com lama, pois assim seria mais difícil captarem o seu
cheiro.
O homem negro como o carvão
cobriu-se com as poucas folhas que encontrara, pois assim seria mais difícil
conseguirem vê-lo.
E assim avançavam pela noite
dentro para a “boca do diabo”.
As feras dormiam. Feias
criaturas. Fedorentas. Extremamente desagradáveis.
Nesse instante, os dois homens
avistaram-se. Pensando que a sua chave para a sobrevivência poderia ser roubada
foram a correr ao encontro dos seus tão desejados e únicos bens. Atitude muito
correta sem dúvida.
E é claro que a feras acordaram
mesmo antes de eles terem percorrido meio caminho para a salvação.
Estavam muito perto de o
conseguir, por isso em vez de irem a correr em direção à floresta, foram a
correr em direção aos objetos. Como peixes a nadar em direção às redes.
Mesmo quando estavam quase a conseguir, foram
arremessados pelo ar.
As feras espetavam as garras na
pele deles.
Banhado em sangue o homem branco
como a neve conseguiu soltar-se dando dois valentes murros à fera que o
prendia, deixando-a desnorteada.
Aproveitando este milagroso
momento, levantou-se e correu em direção ao seu objeto.
O seu rival ainda se encontrava
em dificuldades.
Pegou na pequena pedra preta
aguçada e na corda. Mas, por razões desconhecidas, atirou a corda para junto do
homem negro como o carvão e sem demoras correu para a floresta e só parou
quando se certificou que nada o perseguia.
- Porque o fiz? Ajudar o meu
rival? Porque é que eu não fiquei com a corda? E onde estará ele agora? Ou está
morto ou está a rir-se da minha estupidez. - murmurava por entre dentes o homem branco como a neve.
Algumas horas depois decidiu
voltar à clareira.
Ninguém lá estava, nem fera, nem
homem, nem corda.
- Talvez tenha sobrevivido. –
disse o homem branco num tom de voz quase inaudível.
Este pensamento causava-lhe algum
conforto, bem lá no fundo.
O que ele não sabia é que o homem
negro não se estava a rir, mas pelo contrário, foi aquele ato que o salvou, que
permitiu sufocar a fera e sair daquela maldita clareira.
O seu companheiro merecia um
favor.
Ambos cansados resolveram fechar
os olhos. Tinha passado um grande dia.
Acordaram. Estavam perplexos. Do
dia para a noite a floresta sombria transformou-se numa zona de grande altitude
com enormes montanhas. Que estranho Vale!
Estava frio. O vento soprava com
muita força. À sua volta, um grande manto branco cobria as montanhas.
Ambos seguiam diferentes
caminhos.
Caminharam muito. Estavam
cansados e famintos. Desta vez as raízes não lhes salvariam a vida dado que não
havia nenhumas.
Precisavam de um sítio para se
abrigarem pois estava a aproximar-se uma grande tempestade.
O homem branco depois de muito
procurar encontrou uma gruta onde se abrigou.
O homem negro não teve a mesma
sorte, mas, como apesar de tudo era um homem inteligente, decidiu procurar
pedras e construir o seu próprio abrigo com a ajuda da corda. E consegui, foi
aí que sobreviveu à tempestade.
A gruta que o homem branco encontrara
pertencia a um urso branco.
É claro que ele desconhecia tal
facto.
Só se apercebeu do “hóspede
indesejado” quando sentiu o bafo do animal e o cheiro a peixe a inundar-lhe as
narinas.
O urso saltou para cima do homem
branco, mas este, com a ajuda da pequena pedra preta aguçada, feriu-o na pata e
fugiu.
O urso branco correu atrás dele, deixando
pegadas vermelhas na neve, mas depois desistiu, provavelmente sabendo que a
tempestade apanharia o homem branco como a neve por ele.
Milagrosamente, o homem branco
sobreviveu, apesar de ter estado enterrado na neve durante algum tempo.
Estava cheio de frio e
extremamente cansado.
De repente lembrou-se do cheiro a
peixe que provinha daquele desprezível animal.
-Provavelmente haverá um lago
perto. – proferiu ele.
Olhou em volta e seguiu caminho.
Depois de muito andar conseguiu
encontrar o lago.
O que ele desconhecia é que a
alguns quilómetros atrás, o homem negro avistara-o e seguira-o.
O homem branco não reparou,
talvez por estar tão faminto e cansado, ou então, porque a ideia de se afastar
o mais possível do urso o confortava.
O homem branco como a neve
aproximou-se do lago. Apesar de este estar congelado á superfície, havia peixes
a nadar lá bem no fundo.
Andou sobre a superfície gelada
do lago á procura de camadas de gelo mais finas. Quando as encontrou quebrou-as
com a sua pedra preta aguçada e depois sentou-se e ficou à espera que algum
infeliz peixe nadasse até à superfície.
O homem negro observava-o de
perto.
E depois sucedeu algo
inexplicável (coisa que acontecia muito frequentemente neste Vale Sem Fim).
Um peixe nadou até à superfície e
piscou-lhe o olho e sorriu-lhe!
-Mas que estranho, não é
possível... – disse o homem branco, pensando que os seus olhos o enganavam.
Apesar disso tentou apanhá-lo, e
conseguiu, só que depois o peixe lançou-lhe um outro sorriso e puxou-o para
dentro de água. O homem branco não o consegui evitar pois uma das suas mãos
parecia estar colada ás escamas do animal.
Felizmente, o “seu terrível
inimigo” conseguiu salvá-lo atirando-lhe a sua corda e puxando-o para a
superfície com alguma dificuldade, pois o estranho peixe sorridente era muito
forte.
Em seguida o homem negro
desapareceu como apareceu. Num piscar de olhos!
O homem branco murmurou algo
parecido com obrigado e desmaiou.
O homem negro também desmaiou,
provavelmente devido á fraqueza que o atingiu lentamente como uma doença,
contaminando todo o seu corpo.
Acordaram, desta vez um ao lado
do outro e rodeados por um imenso deserto onde o sol e a areia reinavam.
Desta vez não houve guerra, só
uma simples troca de olhares. Desta vez caminhavam juntos e com o silêncio
entre eles. Porquê? Talvez porque sabiam que a morte era mais do que certa.
O silêncio unia estes homens mais
do que as palavras...
Sentaram-se na areia e
embrenharam-se no arcano da memória possivelmente procurando alguma réstia de
paz e respostas para milhões de perguntas.
Subitamente, pequenas gotas de
água começaram a cair do céu, como pequenos fragmentos de esperança líquida.
Os dois homens receberam esta
dádiva de braços abertos.
A chuva nunca lhes soube tão bem
como naquele momento.
Mas a felicidade desvaneceu
quando avistaram uma onda gigante ao longe (de onde aparecera era uma pergunta
que não valia a pena fazer).
Enorme. Gigantesca. Mortífera.
Estava a aproximar-se com uma
velocidade incrível.
As pequenas gotinhas ainda caíam
e escorriam pelas faces de ambos.
Estes uniram as mãos cheias de
esperança líquida.
Duas miseráveis criaturas
sedentas de guerra estavam agora unidas por um gesto incrivelmente bonito.
A onda estava muito perto deles.
-Adeus, perdoa-me... – disseram
os dois ao mesmo tempo numa voz melíflua.
Foi então que foram engolidos
pela onda...
Acordaram, mas agora estavam nas
suas camas, cobertos de água, de areia e de arrependimento.
Chovia lá fora.
A paz foi estabelecida e as duas
tribos foram unidas. Agora cultiva-se esperança e colhe-se alegria. E que bem
que sabe!
Agora pode-se afirmar que há
milhares de anos atrás, rodeadas por íngremes montanhas e felicidade, viviam
duas tribos lideradas por um homem negro como o carvão e por um homem branco
como a neve, terríveis amigos!
E agora também se pode afirmar
que o impossível aconteceu... num dia de chuva.
Vladyslava_Escalão D_Prosa
Num dia de chuva
Estava a chover
deitei-me na cama.
Através dos meus sonhos quis desaparecer,
fechei os olhos, acabara-se o drama…
Comecei a sonhar...
Era tudo tão esporádico…
lá podia amar
sem nada parecer trágico.
O meu coração batia frenético
tal e qual como no primeiro amor.
Neste caso já não estava cético,
Tudo tinha incrível valor!
Era tudo tão real
o sentimento mutuo em ascensão,
o amor ideal
que acendia a chama no meu pequeno coração.
Acordei alvoraçada
com a chuva a bater forte na janela,
algo destroçada…
eu já não era mais a donzela!
A chuva levou-me o sonho,
a loucura simples de acreditar.
Agora esboço um sorriso tristonho
cada vez que sei que a chuva vai voltar…
Num dia de chuva,
eu quis espairecer...
No meu sonho ultrapassei a curva
que me fez perceber…
Que um sonho é o que inconscientemente
queremos viver,
aquele amor ardente
a loucura, que nos faz querer ser.
Ana Oliveira_ Escalão E_Poesia
Num dia de chuva
Caminhei debaixo do sol ardente
em busca do amor,
foi tudo tão diferente,
não usei Prada nem Dior...
Olhei para o mar,
mas foi em vão!
Eu queria o luar
e tu a dar-me a mão.
A noite caiu de repente.
Quando olhei lá estavas tu,
em busca do amor,
foi tudo tão diferente,
não usei Prada nem Dior...
Olhei para o mar,
mas foi em vão!
Eu queria o luar
e tu a dar-me a mão.
A noite caiu de repente.
Quando olhei lá estavas tu,
de teu olhar eloquente
saído do velho baú...
Acordei, a chuva batia-me no rosto,
perdi-te na noite sem saber...
A chuva levou-te para o sol-posto
eu nem queria crer...
Que loucura
veio a chuva avassaladora,
perdi a compostura...
Acordei, a chuva batia-me no rosto,
perdi-te na noite sem saber...
A chuva levou-te para o sol-posto
eu nem queria crer...
Que loucura
veio a chuva avassaladora,
perdi a compostura...
esqueci o outrora.
Em dias chuvosos
a tempestade vem,
lembro os teus abraços calorosos
que só o sol tem...
Num dia de chuva
é difícil viver,
é como que ficar viúva
Ainda estou para perceber.
Ana Oliveira_Escalão E_Poesia
Num dia de chuva
Lá estava a cinderela
sentada de perna cruzada,
ele espreitou pela ruela
ela sentiu-se vigiada..
Tirou a sandália brilhante
correu pelas pedras da calçada,
viu algo cintilante,
era uma estrela molhada!
Estrela esta distinta
de fato preto e gravata,
postura já há muito extinta
e uma bela coroa de prata.
Era um príncipe que passeava a chover,
cabelos loiros e charmoso...
Tão bonito que ousei dizer
Oh! Que deus bondoso!
A chuva não parou,
Mas ela não se importou com o cabelo.
Quando ele a chamou
Ai! Que príncipe tão belo!
Ofereceu-lhe o seu casaco
Para a agasalhar,
ele pareceu-lhe um bebé pato
com os cabelos no ar...
Na verdade ela gostou,
tudo nele era íntegro e ideal.
Era o homem com que sempre sonhou
tão sincero que lhe pareceu surreal.
Ele abraçou-a com sinceridade,
ali ficaram na chuva morosa...
Ele era a sua verdade,
Ela sentia-se poderosa.
A chuva parou,
ele foi embora...
Ela um pouco chorou
Ele disse: princesa não chora!
Ele saiu com a promessa de voltar,
Ela animou
rezando à chuva para regressar.
Ela para sempre esperou...
Num dia de chuva
há um príncipe sozinho,
um casaco que serve como uma luva
e claro, um nervoso miudinho.
Ana Oliveira_Escalão E_Poesia
“NUM DIA DE CHUVA…”
GOSTO DA CHUVA!
QUANDO TEMOS O SOL
POR TRÁS E CHOVE À NOSSA FRENTE, VIMOS O ARCO-ÍRIS.
QUANDO CHOVE OS
CARACÓIS SAEM DAS SUAS CASINHAS E VÊM TOMAR UM BANHO NAS GOTINHAS DE CHUVA…ELES
TAMBÉM GOSTAM DO ARCO ÍRIS!
PING, PING,PING…CAI A
CHUVA, UMAS VEZES DEPRESSA OUTRAS DEVAGARINHO…
Maria Figueiredo Simões_ Escalão A
“NUM DIA DE CHUVA…”
GOSTO DA CHUVA E GOSTO
DO SOL!
OS DOIS JUNTOS, FAZEM
O ARCO-ÍRIS.
HÁ UMA LENDA QUE DIZ
QUE NO FIM DO ARCO-ÍRIS HÁ UM TESOURO…AH! SE EU O ENCONTRASSE…
SE EU O ENCONTRASSE,
FICAVA RICO…COMPRAVA MUITAS COISAS PARA MIM, MAS TAMBÉM DAVA MOEDAS A TODA A
GENTE!
Martim Ângelo Figueiredo_Escalão A
“NUM DIA DE CHUVA…”
EU NÃO GOSTO DA
CHUVA, PORQUE NÃO GOSTO DE ME MOLHAR…
MAS ADORO A CHUVA E O
SOL PARA FAZER O ARCO-ÍRIS.
O ARCO-ÍRIS É MUTO
COLORIDO E BONITO.
FAZ-ME FELIZ E FAZ-ME
SONHAR.
TAMBÉM GOSTO DA
CANÇÃO DO CARLOS PAIÃO “ARCO-ÍRIS, ARCO-ÍRIS, QUANTOS HOMENS SÃO PRECISOS PARA
SONHAR?
Roberto Cabete Parreira_Escalão A
Sem comentários:
Enviar um comentário