O
trabalho que se apresenta foi produzido para a disciplina de Literatura
Portuguesa. O Miguel analisou as fotografias vencedoras do concurso da National Geographic e, inspirado por
elas, escreveu este texto. As fotos foram retiradas do endereço indicado.
A LINHA DE UM TEMPO
Quando nascemos e somos crianças, sentimos o pleno gosto da
liberdade, da alegria, não sentimos medos, receios e, muitas das vezes, nem
damos conta de que o perigo está à espreita.
E assim vamos crescendo… até que, na adolescência, começamos
a sentir que somos pessoas diferentes rodeadas por pessoas tão iguais que não
nos compreendem, não veem e não aceitam as nossas diferenças. Incompreensão é a
palavra de ordem.
E assim vamos vivendo: isolados, enfiados no nosso mundo,
rodeados de tanta gente que não nos diz nada. Resta o isolamento nesta teia de
relações sociais.
E continuamos a crescer. Tornamo-nos adultos e somos a pressa
das relações. Rodeados de tanta gente, não vemos ninguém, ninguém nos vê.
Vamos perdendo a nossa capacidade de convívio e de diálogo.
Os problemas surgem e com eles a incapacidade de os resolver. A única solução
por vezes encontrada é o virar as costas ao problema e ao outro. E assim se
desfazem laços que nunca se ataram. E assim, damos lugar aos nossos instintos
mais animais e lutamos de forma feroz e bruta por coisas às vezes
insignificantes.
Tentamos mudar o rumo da nossa vida, tentamos dar o salto que
falta e, às vezes, caímos no precipício.
A dor passa a fazer parte de nós e a única vontade que
sentimos é a de voltarmos a ser crianças no local onde outrora nos sentíamos
seguros e amados, pois concluímos que a única coisa que nos falta é alguém que
nos ceda um ombro amigo e que nos faça sentir novamente a paz a tranquilidade e
a harmonia há tanto tempo perdidas.
Neste jogo de lutas interiores, neste viver ao lado da
tempestade, acende-se a luz da esperança, da crença em algo melhor, num
arco-íris que anuncie que tudo vai melhorar.
O tempo não para. As rugas e as gorduras e a flacidez da pela
fazem-se sentir de forma mais marcada. É a velhice. E é aqui que, ou por causa
da idade, ou por causa da fragilidade que a idade traz, nos voltamos a
aproximar dos outros. Esses outros que começamos a olhar como alguém parecido
connosco. Porém, a solidão começa a instalar-se de forma mais aguda. A velhice
vota as pessoas ao esquecimento, numa vida que ainda se torna mais triste, mais
amarga, mais sofrida.
Soltam-se os gritos mudos num pedido de ajuda, mas que
ninguém ouve ou sente. Passamos a ser o representante da nossa tribo: cheios de
experiências e sabedoria mas sem ninguém com quem partilhar.
Começa-se a olhar para o tempo que passou e que ainda falta
passar e sentimos que somos um prédio em ruínas. Somos a ruína do que já fomos
e sentimos que o tempo já não volta e que as oportunidades já se esgotaram. Ficamos
a olhar para o passado e a pensar que poderíamos ter sido muito mais felizes
se, pelo menos, tivéssemos feito um esforço para atar os laços que não quisemos
atar e olhar para o horizonte com uma perspetiva de que podíamos ter tornado o
nosso mundo bem melhor.
Miguel Freitas
10ºG -
Nº17
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