Foto de Cristina Seixas |
Com o objetivo de sensibilizar os
participantes para a poesia da enologia, em torno do salutar convívio entre
pares, o Projeto organizou, este ano, um passeio à região da Bairrada, aqui tão
perto, mas, para alguns, tão desconhecida. O Marquês de Pombal terá sido grande
responsável por este desfavorecimento da região, pois os seus investimentos
residiam no Douro, mas José Luciano de Castro (1834 – 1914), aliando uma
brilhante carreira política ao gosto pelo mundo vinhateiro, fundou a região
vitivinícola da Anadia e lançou a Bairrada para o merecido reconhecimento.
Uma refrescante caminhada de 5Km,
uma visita ao Museu do Vinho (Anadia), com a sua coleção de 1.523 saca-rolhas,
pertencente a Adolfo Roque, um opíparo almoço na Quinta do Encontro, pato bem
regado de tintos e brancos, uma sesta pelo Museu Aliança e pelas variadas
coleções de José Berardo, foram as etapas deste agradável passeio. O dia estava
magnífico, as vinhas, já sem os pâmpanos, mas ainda num estado de verde fresco
e puro, o sol aberto e o céu azul, parecia que aquele 6 de junho de 2015 fora
criado para celebrar o sumo das uvas dos anos anteriores. E o grupo da Cristina
Torres celebrou-o, num ambiente de festa e de partilha.
Dos vários poetas lidos, aqui
fica um texto bem engraçado de António Bacelar (1610-1663):
Retrato
de um Bêbado
Perdi-me vendo a pipa, o torno
aberto;
Minha alma está metida em vinho tinto;
Tão bêbado estou que já não sinto
Ser bêbado coberto ou encoberto.
Tenho a cama longe, o sono perto,
No chão estou e erguer-me não consinto,
Minha alma está metida em vinho tinto;
Tão bêbado estou que já não sinto
Ser bêbado coberto ou encoberto.
Tenho a cama longe, o sono perto,
No chão estou e erguer-me não consinto,
A barriga de inchada aperta o cinto,
Falando estou dormindo qual
desperto.
Venha mais vinho e deem-mo vezes cento,
Que alegra o coração, sustenta a vida,
E pouco vai que engrosse o entendimento.
Vingar-me quero, que é grande a bebida;
Tudo o que não é beber é lixo e vento,
Que para tão grande gosto é curta a vida.
Venha mais vinho e deem-mo vezes cento,
Que alegra o coração, sustenta a vida,
E pouco vai que engrosse o entendimento.
Vingar-me quero, que é grande a bebida;
Tudo o que não é beber é lixo e vento,
Que para tão grande gosto é curta a vida.
Até para o ano!
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